Módulo 8 – Portugal e o Mundo da Segunda Guerra Mundial ao Início da Década de 80 – Opções Internas e Contexto Internacional

Posted: May 18, 2014 in Uncategorized

1.1 A reconstrução do pós-guerra

Neste período pós-guerra o panorama internacional é já distinto:

  • Alemanha e Japão perdem influência, vencidas e humilhadas.
  • Reino Unido e França estão empobrecidas e dependentes da ajuda externa, embora vencedoras.
  • URSS, com a força do exército vermelho e a sua imensa extensão geográfica.
  • EUA, primeira potência mundial.

A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz

Quando a 2ª Guerra Mundial se aproxima do fim, os países movimentam-se no sentido de delinear o futuro europeu e mundial. Como tal, temos:

Conferência de Ialta (1 de Fevereiro de 1945): Roosevelt, Estaline e Churchill reúnem-se nas margens do Mar negro. Ficou definido o seguinte:

  1. Definiu-se a fronteira entre a Polónia e a União Soviética.
  2. Divisão provisória da Alemanha em 4 áreas de influência (três potências conferencistas e França, sob coordenação de um Conselho Aliado).
  3. Organização da conferência preparatória da ONU.
  4. Supervisionamento dos “três grandes” na futura constituição dos governos dos países de Leste (ocupados pelo Eixo), com base no respeito pela vontade política das populações.
  5. Estabeleceu-se a quantia de 20.000 milhões de dólares, proposta por Estaline, como base das reparações de guerra a pagar pela Alemanha.
  6. Embora não seja explicita, há claramente uma divisão dos territórios entre capitalismo e comunismo, que sempre foi respeitado, mesmo durante a Guerra Fria.

Conferência de Potsdam (finais de julho, junto de Berlim): ratificam-se/melhoram-se aspetos da conferência de Ialta sobretudo:

  1. Perda provisória da soberania da Alemanha e a sua divisão em 4 áreas de ocupação.
  2. Administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em 4 setores de ocupação.
  3. Montante e tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha.
  4. Julgamento dos criminosos de guerra nazis por um tribunal internacional (Nuremberga).
  5. Divisão, ocupação e desnazificação da Áustria.

Novo quadro geopolítico

  1. URSS apresenta agora consideráveis ganhos territoriais.
  2. URSS é responsável pela libertação de países como Checoslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária. Estes irão aderir ao socialismo mais tarde.
  3. Churchill denuncia publicamente (Universidade de Fulton – Missouri) a criação de uma “Cortina de Ferro” por parte da URSS, que “isola” Ocidente e território soviético.

1.1.2 ONU (Organização das Nações Unidas)

A ideia é criar uma organização internacional que fosse capaz de velar pela paz e segurança. A primeira tentativa surgiu aquando da criação da Sociedade das Nações.

A nova organização surgiu, oficialmente, na Conferência de São Francisco em abril de 1945. Eis os princípios fundamentais:

  1. Manter a paz e reprimir os atos de agressão, tanto quanto possível, por meios pacíficos (justiça e direito internacional).
  2. Desenvolver relações de amizade entre os países do Mundo (igualdade entre povos e direito à autodeterminação).
  3. Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e promover a defesa dos Direitos Humanos.
  4. Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas.
  5. A ONU irá apresentar igualmente uma feição humanista, já visível, mas reforçada com a aprovação, 3 anos depois, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Orgãos de funcionamento

A Carta das Nações Unidas definiu (artigo 7º) os órgãos básicos de funcionamento da instituição:

  1. Assembleia Geral.
  2. Conselho de Segurança.
  3. Secretariado-Geral.
  4. Conselho Económico e Social.
  5. Tribunal Internacional de Justiça.
  6. Conselho de Tutela (ou Conselho de Administração Fiduciária).
  • Assembleia Geral:
    • Formada pela generalidade dos membros.
    • Cada membro tem 1 voto.
    • Funciona como Parlamento mundial.
    • Reúne ordinariamente entre setembro e dezembro para colocar na sua agenda todo o tipo de questões por ela abrangidas.
  • Conselho de Segurança:
    • Formada por 15 membros, sendo 5 permanentes (EUA, URSS/Federação Russa, Reino Unido, França e República Popular da China) e 10 flutuantes, eleitos pela Assembleia-Geral, por dois anos.
    • Orgão diretamente responsável pela manutenção da paz e da segurança:
      • Emite “recomendações”.
      • Mediador.
      • Decreta sanções económicas.
      • Decide a intervenção das forças militares da ONU.
    • Decisões são obrigadas a uma maioria reforçada de 9 votos a favor (entre os quais deve estar as dos 5 estados membros permanentes). Basta a oposição de um deles para inviabilizar qualquer tomada de posição (direito de veto).
    • Os 5 estados-membros permanentes são reconhecidos como as potências com o direito de policiar o mundo.
  • Secretariado-Geral:
    • Composto por um secretário-geral, eleito pela Assembleia, por proposta do Conselho de Segurança.
    • O secretario-geral, sem direito a voto:
      • participa nas reuniões do Conselho de Segurança.
      • coordena o funcionamento burocrático da Organização.
      • Serviços diplomáticos, sobretudo como mediador em questões mais delicadas.
      • Representa a ONU e, com ela, todos os povos do mundo.
  • Conselho Económico e Social:
    • Encarregado de promover a cooperação a nível económico, social e cultural entre as nações.
    • Atua através de comissões especializadas.
    • É um dos orgãos mais importantes e ativos da ONU.
  • Tribunal Internacional de Justiça:
    • Sede em Haia.
    • Orgão máximo da justiça internacional, resolve, à luz do direito internacional, os litígios entre os Estados.
  • Conselho de Tutela (ou Conselho de Administração Fiduciária):
    • Encarregado de administrar os territórios que outrora se encontravam sob a alçada da SDN, encaminhando-as progressivamente para a independência.
    • Cessa os seus serviços em 1994, quando Palau obtém a independência.

1.1.3 As novas regras da economia internacional

O ideal de cooperação económica

O planeamento do pós-guerra não foi só em termos políticos. Foi também em termos económicos e financeiros. Assim, em julho de 1944, um grupo de economistas de 44 países reune-se em Bretton Woods (New Hampshire, EUA), com o fim de prever e estruturar a situação económica e financeira do período de paz.

Este teve como objetivo(s):

  1. Regularizar o comércio mundial.
  2. Regularizar os pagamentos.
  3. Regularizar a circulação de capitais.
    1. Evitar o círculo vicioso de desvalorizações monetárias.
    2. Evitar a instabilidade das taxas de câmbio dos anos 20 e 30.

Eis as medidas adotadas:

  1. Criação de um novo sistema monetário internacional: garantir a estabilidade das moedas, indispensável para incrementar as trocas, assente no dólar como moeda-chave e em que as restantes moedas passaram a ter uma paridade fixa relativamente ao ouro e à moeda americana, já que o Tesouro dos EUA garantia a convertabilidade dos dólares neste metal precioso – “tão bom como o ouro” (as good as gold).
  2. Criação de dois organismos:
    1. Fundo Monetário Internacional: recorriam os bancos centrais dos países com dificuldade em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos.
    2. Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como Banco Mundial, destinado a financiar projetos de fomento económico a longo prazo.
  3. Criação de uma organização internacional de comércio (proposto pelos EUA):
    1. Criação, em 1947, do GATT ou Acordo Geral de Tarifas e Comércio: 23 países comprometem-se a negociar a redução dos direitos alfandegários e outras restrições comerciais. Por isso, mais tarde, criou-se o BENELUX.
  4. Criação do BENELUX: união aduaneira entre a Bélgica, os Países Baixos e o Luxemburgo. Estes viria a constituir-se como o embrião da Comunidade Económica Europeia.

1.1.4 A primeira vaga de deescolonizações

Uma guerra não acarreta somente destruição económica, ela também traz consigo profundas transformações a todos os níveis. Sai o velho, entra o novo…

A guerra, que exigiu pesados sacrifícios às colónias, “acordou” os povos para a injustiça da dominação estrangeira. Além disso, os povos europeus pouco podiam fazer pois já não são os dominadores:

  1. Japão (Ásia): Ocupação da Indochina, Malásia, Birmânia e Índias Orientais Holandesas.
  2. EUA: pretendem a libertação das colónias e instalar o modelo capitalista.
  3. URSS: alarga o interesse para o socialismo nos países recém-formados, além de evitar a expansão ideológica dos EUA nos mesmos.

Olhemos para o caso da descolonização asiática, onde a descolonização se inicia.

A descolonização asiática

  • Médio Oriente:
    • Síria.
    • Líbano.
    • Jordânia.
    • Palestina.
    • Estado de Israel (1948).
  • Poder inglês irá transferir os poderes para:
    • Índia (ver Ghandi):
      • União Indiana (maioritariamente hindu).
      • Paquistão (maioritariamente muçulmana).
    • Ceilão.
    • Birmânia.
    • Malásia.
    • Reação inglesa (pragmática):
      • Criação da Commonwealth pelos ingleses: ingleses preservam o interesse económico na região (pragmatismo). É uma associação de Estados soberanos historicamente ligados ao Império Britânico.
  • Holanda:
    • República da Indonésia (dirigente nacionalista Sukarno). Reconhecem a independência em 1949, após guerra e “recomendação” da ONU.
  • França:
    • Indochina:
      • ocupação japonesa cria fortes sentimentos antifranceses.
      • 1945: França retoma a soberania. Mas ao longo de 9 anos, temos uma longa e violenta oposição, encabeçada por Ho Chi Minh.
      • Surgem 3 novas nações:
        • Vietnam (Norte e Sul).
        • Laos.
        • Cambodja.

1.2 O tempo da Guerra Fria – a consolidação de um mundo bipolar

1.2.1 Um mundo dividido

A rutura

Quando, em 1946, Churchill afirmou, em Fulton, que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de sovietização dos países de Leste era já irreversível.

A URSS:

  • Criação do Kominform (Secretariado de Informação Comunista).

Os EUA:

  • Doutrina Truman: EUA assumem (um ano após o alerta de Churchill), frontalmente, a liderança de oposição aos avanços do socialismo.
    • Contenção do comunismo” (containement). A URSS era a opressão, os EUA o mundo livre.
    • Ajuda à Europa para reerguer-se economicamente.
  • Plano Marshall (ajuda económica à Europa) – European Recovery Plan (ERP):
    • O plano Marshall foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países já sob influência soviética, mas estes sem êxito.
    • A URSS considerou o plano imperialista e impediu que os países, sob sua influência, o aceitassem.
      • Andrei Jdanov, formaliza, por sua vez, a rutura entre as duas potências:
        • EUA: imperialista e antidemocrático.
        • URSS: democracia e fraternidade entre povos.

A URSS (reação ao Plano Marshall):

  • Plano Molotov (Janeiro de 1949): estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental.
    • Criação do COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua): instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da União Soviética.

O primeiro conflito: a questão alemã

A expansão do comunismo no primeiro ano da paz (pós-guerra) fez com que os países capitalistas olhassem para a Alemanha como aliado imprescindível à contenção do avanço soviético. Assim, surgiram várias situações e reações.

  • EUA criam a República Federal Alemã (RFA).
  • URSS, em reação, cria a República Democrática Alemã (RDA).
  • Bloqueio de Berlim (1949): a URSS impede o acesso das forças ocidentais à cidade de Berlim, bloqueando o acesso terrestre à cidade.
    • Reação dos EUA: criação da “Ponte Aérea, enviando mantimentos para a cidade por ar. Esta situação irá manter-se até junho de 1948, altura em que termina o Bloqueio de Berlim.

A Guerra Fria

O afrontamento das duas superpotências durou até aos anos 80, altura em que a URSS mostra os primeiros sinais de fraqueza.

  • Guerra Fria (será que estamos atualmente na mesma situação?): durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o Mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos de Guerra Fria.

1.2.2 O mundo capitalista

A política de alianças dos Estados Unidos

Uma vez enunciada a doutrina Truman, os EUA empenharam-se, por todos os meios, na contenção do comunismo.

Em termos político-militares (“Pactomania”)

  1. Tratado do Atlântico Norte (1949): EUA, Canadá e 10 nações europeias.
    1. Dá origem à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte; NATO – sigla inglesa).
  2. OEA (1948): Organização dos Estados Americanos: América.
  3. Anzus (1951): Oceânia (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos).
  4. OTASE (1954): Organização do Tratado da Ásia do Sudeste.
  5. Pacto de Bagdade (1955): Médio Oriente, Pacto de Bagdade será depois chamado de CENTO.

Todas estas alianças foram complementadas com diversos acordos de caráter político e económico. Em 1959, três quartas parte do Mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.

A política económica e social das democracias ocidentais

No fim da 2º Guerra mundial, o conceito de democracia adquiriu, no Ocidente, um novo significado:

  • Respeito pelas liberdades fundamentais.
  • Regime democrático deve assegurar o bem-estar dos cidadãos e a justiça social.
    • Intervenção do Estado na sociedade.

Nesta altura sobressaíam, no panorama político, duas forças (ambas são credíveis perante outros partidos políticos liberais e tinham lutado contra o nazismo):

  1. Socialismo reformista:
    1. Chegam ao poder em países como a Inglaterra, Holanda ou Dinamarca.
    2. Pretendem a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre concorrência económica com o intervencionismo do Estado.
    3. Advogam o controlo estatal dos setores-chave da economia e uma forte tributação dos rendimentos mais elevados.
    4. Rejeita a referência marxista.
    5. A social democracia contenta-se em redistribuir a riqueza assim obtida pelos cidadãos, através do reforço da proteção social.
  2. Democracia cristã:
    1. Tem a sua origem na doutrina social da Igreja, que condena os excessos do liberalismo capitalista, atribuindo ao poder político a missão de zelar pelo bem comum.
    2. Consideram que o plano temporal e espiritual, embora distintos, não podem separar-se.
    3. Propõem uma orientação profundamente humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na solidariedade.
    4. Advogam condições justas de trabalho, reforço económico do Estado (que deve assegurar o bem-estar dos seus cidadãos).

Deste modo, partindo de ideologias diferentes (acima referenciadas), estes convergem no mesmo propósito de promover reformas económicas e sociais profundas. Por isso, na Europa, assiste-se a:

  1. Vasto programa de nacionalizações.
    1. Bancos, companhias de seguros, produção de energia, transportes, mineração, …
  2. Estado torna-se o principal agente económico do país:
    1. Regula a economia.
    2. Garante o emprego.
    3. Define a política salarial.
    4. Revê o sistema de impostos, reforçando o caráter progressivo das taxas (mais impostos para os mais ricos).

Em conclusão, temos o surgimento da intervenção do Estado na economia, o Estado que assegura o bem-estar dos seus cidadãos, ou seja, o Estado que provide/dá, o Estado-Providência.

A afirmação do Estado-Providência

  • Origem: Inglaterra.
  • Lorde Beveridge (Relatório de 1942) afirmava que o Estado deve combater os “cinco grandes males sociais“:
    • Carência, doença, miséria, ignorância e ociosidade.
  • Criação do Sistema Nacional de Saúde (National Health Service): gratuitidade total dos serviços médicos e extensivo a todos os cidadãos.

A (re)estruturação e este modelo passou por toda a Europa, atendendo-se a:

  1. Situações de desemprego, acidente, velhice e doença;
  2. Prestações de ajuda familiar (“abono de família”).
  3. Outros subsídios.
  4. Ampliam-se as responsabilidades do Estado no que concerne à habitação, ao ensino e à assistência médica.

Este conjunto de medidas visam um duplo objetivo:

  1. Reduzir a miséria e o mal-estar social (repartição mais equitativa da riqueza).
  2. Assegurar uma certa estabilidade à economia.

O Estado Providência foi um fator de grande prosperidade durante 3 décadas.

A prosperidade económica (“Os trinta gloriosos” – Jean Fourastié)

O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas:

  • Governos assumem grandes responsabilidades económicas:
    • Acordos de Bretton Woods.
    • Criação do GATT.
    • Espaços económicos alargados (como a CEE).
  • Nova filosofia de ação, o capitalismo, surge, após a guerra, renovado e revigorado:
    • Entre 1945-1973: produção mundial mais do que triplicou; produção energética e automóvel multiplicou-se por dez.
    • Sem abrandamento de ritmo.
  • “Milagre económico” em países como a RFA, a França ou Japão.

Entre as suas caraterísticas, podemos destacar:

  1. A aceleração do progresso tecnológico: medicina, aeronáutica, … –
    • Rapidamente produção em série;
    • Inovações tecnológicas revolucionam vida quotidiana e processos de produção.
  2. Petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão:
    • Abundância;
    • Baixo preço;
    • Enorme gama de produtos industriais.
  3. Aumento da concentração industrial e do número de multinacionais:
    • empresas investem grandes somas na investigação científica, contribuindo para a aceleração do progresso técnico;
    • Empresas fabricam e comercializam nos quatro cantos do mundo;
    • Empresas acentuam a globalização económica.
  4. Aumento significativo da população ativa:
    • proporcionado pelo reforço da mão de obra feminina no mercado de trabalho;
    • baby-boom dos anos 40-60;
    • imigração dos trabalhos oriundos dos países menos desenvolvidos (gregos, portugueses, argelinos, turcos);
    • mão de obra mais qualificada (exceção dos imigrantes).
  5. Modernização da agricultura:
    1. Setor onde a produtividade aumenta de tal modo que permite aos países desenvolvidos passarem de importadores a exportadores de produtos alimentares.
    2. Renovada por grandes investimentos, nova tecnologia e nova mentalidade.
    3. Mão de obra excedentária dirige-se para os centros urbanos “êxodo rural”. Contribui para a alteração da relação entre os três setores de atividade.
  6. Crescimento do setor terciário:
    1. Multiplicação do número de postos de trabalho: surto espetacular das trocas comerciais, aposta no ensino, serviços sociais prestados pelo Estado e crescente complexidade do Estado.
    2. Alargamento das classes médias, que contribui para a subida do nível de vida e para o equilíbrio social.

A sociedade de consumo

O efeito mais evidente dos “Trinta gloriosos”: generalização do conforto material:

  • Pleno emprego.
  • Salários altos.
  • Produção maciça de bens a preços acessíveis.

Isto conduz a uma sociedade de consumo, que transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.

Nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é permanentemente estimulado a despender mais do que é necessário: centros comerciais, publicidade, vendas a crédito.

O consumismo, que entre as duas guerras fora um fenómeno unicamente americano, instala-se duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda metade do século XX.

1.2.3 O mundo comunista

Os países comunistas:

  1. 1945: 2 países (URSS e Mongólia).
  2. 1945-1949: Europa Oriental, Coreia do Norte e imensa extensão da China.
  3. Décadas de 50 e 60: Ásia (Vietname do Norte, Cambodja, Birmânia), Cuba.
  4. Década de 70: novos países asiáticos e África Negra.

O expansionismo soviético

A expansão do mundo comunista fez-se, em grande parte, sob a égide da URSS:

  • Expansão militar soviética.
  • Processo de descolonização (países recém-emancipados).

Europa

A primeira vaga da extensão do Comunismo atingiu a Europa Oriental:

  • Meados de 1948: Partidos comunistas dos países de Leste assumem-se como partidos únicos, influenciando a vida política, social e económica destes países.

Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares, por oposição às democracias liberais:

  1. As democracias populares defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes trabalhadoras, que exercem o poder através do Partido Comunista.
  2. As eleições existem mediante sufrágio universal, mas o sistema funciona com a apresentação de candidaturas e listas únicas, de carácter oficial.
  3. Dirigentes do Partido ocupam os altos cargos do Estado: definem a vida política, as opções económicas, o enquadramento ideológico e cultural dos cidadãos.

Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com:

  • Pacto de Varsóvia: aliança militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. É uma organização diametralmente oposta à OTAN, simbolizando as duas coligações o antagonismo militar que marcou a Guerra Fria.

A União Soviética não hesitou em usar a força perante protestos e rebeliões. Os dois casos mais conhecidos:

  1. Hungria (1956), Checoslováquia (1968).
    • As ruas de Budapeste e de Praga (“Primavera de Praga”) viram-se, então, ocupadas pelos tanques soviéticos, que, depois de uma repressão severa, garantiram a “normalização” da vida política.
  2. Berlim: milhares de cidadãos da Alemanha comunista utilizavam Berlim Oriental como forma de alcançar a República Federal Alemã, atraídos pelos salários altos e pelo consumismo da sociedade capitalista.
    1. A solução? Em 1961, contrói-se, na RDA, o famoso Muro de Berlim, que, em breve, se tornou no símbolo da Guerra Fria.

Ásia

Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista se ficou a dever à intervenção direta da URSS foi a Coreia (ouch!).

Ocupada pelos Japoneses, no final da 2ª Guerra Mundial a Coreia foi libertada com a ajuda da URSS e dos EUA. O resultado:

  1. República Popular da Coreia: Zona norte, Comunista, sustentada pela URSS.
  2. República Democrática da Coreia: Zona sul, conservadora, sustentada pelos EUA.
    1. Guerra entre 1950-1953: violenta guerra, provocada pela tentativa de invasão do socialismo (norte) face ao sul. No final, tudo ficou na mesma até à atualidade.

Outro país foi a China.

  • Outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma República Popular:
  • Embora o apoio da URSS aos revolucionários tenha sido decisivo, meses depois os dois Governos formam um Tratado de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que coloca a China na esfera soviética. Posteriormente, a China afasta-se da URSS.
  • A China Popular participou ativamente na Guerra da Coreia e na guerra da libertação da Indochina, encabeçada por Ho Chi Minh.

América Latina e África

O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina: Cuba.

  • 1959: Revolucionários, sob o comando de Fidel Castro e do mítico Che Guevara, derruba o ditador pró-americano Fulgêncio Batista.

Com a hostilidade de Washington à porta, Cuba irá aceitar, mais tarde, o apoio da URSS, transformando-se num bastião avançado do Comunismo na América Central.

  • A influência soviética em Cuba atinge o seu auge, talvez o maior da Guerra Fria, quando os EUA detetam (fotografia aérea), em 1962, misseis russos, de médio alcance, capazes de atingir os EUA.
    • Kennedy exige a retirada imediata dos misseis. Após negociações, e com Ktruchtchev no lado russo, os russos aceitam retirar os misseis e os EUA comprometem-se a não invadir o território cubano. Evita-se um conflito nuclear.
  • Anos 70: Cuba/URSS ajuda as guerrilhas marxistas da Guatemala, El Salvador e Nicarágua.
  • (Cuba/URSS) África: Angola e Moçambique tornam-se comunistas.

Opções e realizações da economia de direção central

Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica dos anos 20, influenciando também outros países socialistas:

  • Indústria pesada e infraestruturas recebem prioridade absoluta (complexos siderúrgico, centrais hidroeléctricas).
    • É um dos maiores êxitos da economia planificada nos países socialistas (Excepção da Checoslováquia e da RDA).

No entanto, o nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica. Eis os motivos:

  1. Jornadas de trabalho excessivas (10 horas).
  2. Salários sobem a um ritmo muito lento.
  3. Carências de bens de toda a espécie mantêm-se.
  4. Agricultura, construção habitacional, indústrias de consumo e setor terciário são negligenciados na economia planificada. Por isso, o avanço nestes setores é muito lento.
  5.  Nas cidades, a industrialização muito rápida leva ao crescimento de bairros periféricos, superpovoados e insalubres. Filas de espera para adquirir bens essenciais são uma rotina diária.

Os bloqueios económicos

Após o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começam a mostrar as suas debilidades. Eis os motivos:

  1. Planificação excessiva entorpece as empresas: não gozam de autonomia na seleção das produções, do equipamento e dos trabalhadores, na fixação de salários e preços ou na recolha de fornecedores e clientes.
  2. Gestão burocrática: sem entusiasmo nem iniciativa. Limita-se a cumprir as quantidades previstas no plano, sem atender à qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos equipamentos e da mão de obra.
  3. Unidades agrícolas: falta de investimento, má organização e desalento dos camponeses reflete-se, de forma severa, na produtividade. O Leste, outrora exportador de cereais, agora vê-se obrigado a importar em quantidades crescentes.

Face a este sintoma de marasmo económico, nos anos 60 implementam-se um vasto conjunto de reformas nos países socialista:

  1. Reforço do investimento nas indústrias, na habitação (parque imobiliário cresce 80%) e na agricultura (programa de arroteamento).
  2. Redução da duração do trabalho semanal (de 48 para 42 horas) e da idade de reforma (incluindo agora trabalhadores agrícolas).
  3. Nomenklatura: Aumento da autonomia dos gestores nas empresas face aos altos funcionários do Estado, bem como prémios aos trabalhadores mais ativos, para aumentar produtividade.

No entanto, os efeitos destas medidas ficaram aquém das expectativas. Na década de 70, e sob a orientação de Leonidas Brejnev:

  • Alargamento da burocracia.
  • Onda de corrupção sem precedentes.
  • O IX e o X planos voltam a dar prioridade ao complexo militar-industrial e à exploração dos recursos naturais (ouro, gás e petróleo da Sibéria). No entanto, os custos de tal operação tornaram os resultados aquém das expectativas.
    • Estes problemas irão alastrar-se aos países socialistas e irão conduzir à falência dos regimes comunistas europeus no fim dos anos 80.

1.2.4 A escalada armamentista e o início da era espacial

A escalada armamentista

Para além destes esforços económicos e políticos, constituindo alianças internacionais, os dois blocos apetrecharam-se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico de armamento cada vez mais sofisticado.

Eis a cronologia/passos para a corrida ao armamento:

  1. Pós-Guerra: só os EUA conhecem o segredo da Bomba atómica.
    1. Em Setembro de 1949: URSS faz explodir a 1ª bomba atómica. A confiança do Ocidente desmorona-se.
  2. 1952:americanos testam, no pacífico, a primeira bomba de hidrogénio, 1000 vezes mais destrutiva que a bomba de Hiroxima. A URSS também irá obter a bomba de hidrogénio. É uma corrida ao armamento nuclear.
  3. Final de 1950 (EUA): “Memorado do Conselho de Segurança“:
    • Imperativo “aumentar, tão depressa quanto possível, a nossa força aérea, terrestre e naval em geral e as dos nossos aliados, a um ponto em que não estejamos tão fortemente dependentes de armas nucleares“.
    • Os EUA triplicam o orçamento para a defesa, sobretudo após a invasão da Coreia do Sul pelos exércitos comunistas.
  4. 1952 (URSS): URSS, em resposta, passa a gastar 80% do orçamento de Estado em despesas militares.
  5. Churchill afirma que o mundo tinha resvalado para um “equilíbrio instável do terror“.

O início da era espacial

Cientes de que a superioridade tecnológica pode ser decisiva, as duas super potências dedicaram grande atenção aos ramos da Ciência relacionados com o equipamento militar.

  1. Durante a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos foguetes e criado os primeiros misseis. Os seus cientistas irão emigrar para a URSS e os EUA, adquirindo um papel relevante no programa espacial.
  2. Outubro de 1957: URSS coloca, em órbita, primeiro satélite russo, o Sputnik 1.
  3. Novembro de 1957: URSS coloca, em órbita, a cadela Laika, que se tornou o primeiro viajante espacial. Nesse mesmo ano, os EUA tentam igualmente colocar um satélite em órbita, mas este explodiu no lançamento.
  4. Início de 1958: EUA chegam à órbita com o Explorer 1.
  5. 1961: URSS lança o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre.
  6. Final da década de 60 (EUA): Neil Armstrong e Edwin Aldrin são os primeiros astronautas a chegar à Lua. Este feito torna os EUA a maior potência na área espacial e desfere um golpe profundo na URSS.

1.3 A afirmação de novas potências

1.3.1 O rápido crescimento do Japão

Vencido, destruído e humilhado no final da Segunda Guerra Mundial, nada fazia prever o extraordinário desenvolvimento do Japão que, no fim dos anos 60, se tornou a segunda potência económica mundial.

Analisemos então os passos para o rápido crescimento do Japão:

  1. 1955-1961:
    1. Produção industrial triplicou.
    2. Investimentos do setor privado aumentaram quase 600%!
    3. Empresários procuram sempre a inovação.
    4. Principais setores: indústria pesada (construção naval, máquinas-ferramentas, química) e dos bens de consumo duradouros (televisores, rádios, frigoríficos, etc.)
  2. 1961-1965: período de alguma estagnação.
  3. 1966-1971: recuperação da força de produção do primeiro período:
    1. Produção industrial duplica.
    2. Criaram-se 2,3 milhões de novos postos de trabalho.
    3. Desenvolvimento dos setores clássicos, como a siderurgia, bem como o setor automóvel, televisores a cores, aparelhos de circuito integrado, etc. Nos automóveis partem à conquista americana e depois à conquista europeia.

Os fatores do “milagre japonês”

Este extraordinário crescimento económico deve-se à conjugação de vários fatores.

  1. A ajuda americana: entre 1945-1952, o Japão modernizou-se e beneficiou de um plano de ajuda económica semelhante ao Plano Marshall.
  2. A atuação do Estado:
    • Papel relevante no investimento, na proteção das empresas e no mercado interno.
    • Paralelamente, fomentou o ensino e a investigação científica, contribuindo para colocar o país na vanguarda tecnológica.
  3. A mentalidade japonesa: muito diferente da ocidental. Dinâmicos e austeros. Os empresários reinvestiam sistematicamente os lucros, os trabalhadores abstinham-se de reivindicações sindicais.
  4. A estreita ligação entre os trabalhadores e a empresa: os japoneses veem o patrão como um protetor e a empresa como uma segunda família, à qual dedicam todo o seu empenho (destaque para o hino e símbolo da empresa, …).

1.3.2 O afastamento da China do bloco soviético

Ao contrário do marxismo tradicional, que via no operariado o motor da revolução, Mao enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a liderança revolucionária. Esta discrepância trouxe à ideologia comunista uma nova variante, conhecida como maoísmo.

Com Estaline:

  1. Tratado de cooperação e amizade.
  2. Intervém na Guerra da Coreia.
  3. Adota o modelo da economia planificada.
  4. Beneficia o país com ajuda financeira e técnica.

Sem Estaline:

  1. Relações entre os dois países deterioram-se progressivamente.
  2. Condenação de Krutchev dos crimes do seu antecessor e a sua política de diálogo com o Ocidente merecem o repúdio do governo chinês.
  3. Decreta-se o fim do modelo soviético de economia planificada.

Depois de uma campanha lançada às massas para retificar os erros do partido (“Deixai que cem flores desabrochem“), temos:

  • “o grande salto em frente” (1958):
    • programa que visa encurtar o caminho para o socialismo e “apanhar em 15 anos a Inglaterra”, “contando apenas com as próprias forças”.
      • Vida camponesa foi reorganizada em comunas populares.
      • Prioridade à grande indústria abandonada.
      • Implementação de pequenas indústrias locais de tecnologia tradicional.
    • O programa foi um fracasso e rapidamente foi abandonado. No entanto, a URSS acusou o líder chinês de aventureiro e Maio devolve as críticas acusando os soviéticos de servirem os privilegiados e não o povo trabalhador.

No Conselho das Nações Unidas, os delegados chineses consideraram “o socialismo-imperialismo” soviético como a “principal ameaça à paz mundial”.

1.3.3 A ascensão da Europa

Da CECA à CEE

Os passos consistentes (entre muitas rivalidades e dificuldades) para a cooperação europeia:

  1. Declaração Schuman (1950): cooperação entre a França e a Alemanha, no domínio da produção de carvão e aço, pondo assim uma pedra na rivalidade secular entre os dois países.
  2. [Jean Monnet – “Pai da Europa”] CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (1951): a que aderiram a Alemanha, a França, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo.
  3. CEE – Comunidade Económica Europeia (1957): criado pelo Tratado de Roma.
    1. Livre circulação de mercadorias, capitais e trabalhadores, bem como a livre prestação de serviços.
    2. Política comum na área da agricultura, dos transportes e da produção energética.
    3. Criação da EURATOM (Comissão Europeia de Energia Atómica), com um funcionamento independente da CEE.

De então para cá, a Europa tem caminhado em direção à plena união político-económica, única via capaz de a fazer ombrear com as superpotências e desempenhar um papel de relevo na geoestratégica mundial.

1.3.4 A segunda vaga de descolonizações.

A política de não alinhamento

A descolonização africana

A descolonização africana inicia-se nas regiões arabizadas do Norte, que, a partir de 1945, contestam vivamente o domínio europeu:

  • Líbia: colocada sob a tutela da ONU, obtém a independência logo em 1951.
  • 1956: França retira-se de Marrocos e Tunísia. Argélia, só em 1962, onde habitam colonos franceses, é que obtém a independência.

Eis os motivos que os movem para a independência:

  • Os líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum, difundindo a ideia de que ela é tão válida como a civilização dos europeus colonizadores.
  • Muitos dos líderes foram educados nas metrópoles (valores de liberdade e justiça social são assimilados).
  • Luta política.
  • Luta contra a pobreza e atraso económico.

O principal apoio veio da ONU:

  • Resolução 1514 (1960): consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e condena qualquer ação armada nas metrópoles, no sentido de a impedir.

Um Terceiro Mundo

Nas três décadas que se seguiram ao conflito mundial (1946-1976) constituíram-se cerca de 70 novos países na Ásia e em África.

  • Terceiro Mundo:estas regiões são das mais pobres e populosas do globo.
  • Apesar da autonomia política, continuam sob a dependência económica dos países ricos: as grandes companhias continuam a explorar as matérias-primas mineiras e agrícolas, fornecendo, como no passado, produtos manufacturados.
    • os lucros das companhias não foram reinvestidos no local.
    • valor das matérias-primas caiu.

A política de não alinhamento (nem com EUA, nem com URSS)

Os novos países representam uma terceira via, uma alternativa relativamente aos blocos capitalista e comunista.

Em 1955 temos a Conferência de Bandung:

  1. Punhado de Países asiáticos convocam uma reunião para definir linhas gerais para a atuação dos países recém-formados.
  2. Ficou definido 10 pontos, entre os quais se destaca o seguinte:
    1. condenação do colonialismo.
    2. rejeição da política de blocos.
    3. apelo à resolução pacífica dos diferendos internacionais.

Então, o que é o Movimento dos Não Alinhados?

  • Continuação do efeito da Conferência de Bandung.
  • Criado na Conferência de Belgrado (1961).
  • Via política alternativa à bipolarização mundial.
  • Nehru e Tito “política ativa, positiva e construtiva” com vista ao estabelecimento da paz mundial.

Na prática, a atuação política do movimento revestiu sobretudo a forma de uma luta contra o colonialismo (ouvidos sobretudo na Assembleia-Geral da ONU):

  • Condenação da atuação dos Franceses na Argélia.
  • Condenação da atuação dos Portugueses em Angola e Moçambique.
  • Condenação da atuação dos Americanos no Vietname.

1.4 O termo da prosperidade económica: origens e efeitos

Os “Trinta Gloriosos” cessam em 1973:

  • PIB passa de 5% (1962-1973) para 2,2 % (1974-82).
  • PIB tem um crescimento nulo (1975-1982)
  • Crise afeta sobretudo o setor siderúrgico, construção naval e automóvel, bem como o setor têxtil.
  • Aumento do desemprego.
  • Inflação torna-se galopante (10% em 1974). Estaglação: termo inédito, para este período, que aglutina as palavras estagnação (da produção industrial) e inflação.

Os fatores da crise

A interrupção do crescimento económico nos anos 70 deveu-se, sobretudo, à conjugação de dois fatores: a crise energética e a instabilidade monetária.

A crise energética:

  1. Em 1973: os países do Médio Oriente, membros da OPEP, que até aí tinham mantido baixo o custo do barril de crude, fazem deste recurso uma arma política.
    • Quadruplicam o preço do petróleo e reduzem a produção em 25%, reforçando esse número com reduções mensais progressivas de 5%, até que fosse abandonada a política de auxílio ao Estado Judaico.
    • EUA, Holanda e Dinamarca são considerados “inimigos da causa árabe”, com um boicote total.
  2. Em 1979: novas subidas de preço devido à crise política no Irão (segundo maior exportador mundial) e à posterior guerra Irão-Iraque.

Ambas as crises disparam o preço do custo energético, do preço dos produtos industriais e, consequentemente, do preço ao consumidor final (inflação).

A crise monetária:

  1. A excessiva quantidade de moeda posta em circulação pelos EUA (gastos sociais, militares, investimentos no estrangeiro, etc) levou o presidente Nixon a suspender, em agosto de 1971, a convertabilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional.

Outras razões apontadas:

  1. Falência do sistema fordista, baseado numa extrema divisão do trabalho:
    • Desmotivação do operário e elevado absentismo;
    • Aumento dos encargos sociais e salariais, diminui fortemente os ganhos dos empresários.
  2. Mercado de consumo atinge ponto de saturação.

Uma crise relativa

  • A crise dos anos 70 introduziu um novo ciclo económico, marcado pela alternância entre períodos de crescimento e de estagnação, e por um desemprego elevado.
  • No entanto, ainda que a um ritmo mais lento, o crescimento económico manteve-se (não atinge as proporções dos anos 30).
  • Aumento do setor terciário e do comércio internacional.
  • As estruturas do Estado-Providência cumpriram cabalmente o seu papel, amparando o desemprego e evitando situações de miséria extrema e generalizada.

2.1 Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a 1974

  1. A posição de neutralidade que Portugal assumiu na Segunda Guerra Mundial permitiu a sobrevivência do Estado Novo.
  2. O Regime empreendeu alguns esforços de modernização, sem conseguir, todavia, percorrer a distância que nos separava dos países industrializados da Europa.
  3. Cada dia mais velho e anacrónico, o Estado Novo estava, no início dos anos 70, à beira do fim.

2.1.1 Coordenadas económicas e demográficas

A estagnação do mundo rural

Desde os anos 30, que os estudos sobre a situação da agricultura portuguesa apontavam como essencial:

  • Redimensionamento da propriedade:
    • Assimetria Norte-Sul: no norte predomina o minifúndio (não possibilita a mecanização) e a sul predomina o latifúndio, com várias propriedades subaproveitadas e pouco propícias ao investimento (regime de arrendamento precário).

Assim, houve vários planos de reforma consistentes e ousados, sobretudo para aumentar a mecanização. No entanto, os latifundiários do sul, com a sua influência política, inviabilizaram vários destes projetos.

Assim, estes projetos falharam porque:

  • subsídios tiveram pouco efeito.
  • subsídios beneficiaram os grandes proprietários do sul e vinhateiros.
  • manutenção dos preços agrícolas em níveis muito baixos.
  • falta de investimento (desinteresse).

Na década de 60:

  • País envereda pela via industrializadora.
  • Agricultura relegada para segundo plano “caso sem solução”.
  • Decréscimo brutal da taxa de crescimento do Produto Agrícola Nacional (de 5,5% para 1% – anos 50 para anos 60).
  • Êxodo rural maciço.
  • Crescimento da disparidade entre a produção e o consumo alimentar, o que elevou o défice agrícola.

A emigração

Décadas de 30 e 40

  • Redução drástica da emigração: devido à Grande Depressão e à II Guerra Mundial.
  • Crescimento demográfico intenso: excesso de mão de obra.

Entre 1946-1973

  • Emigração de cerca de 2 milhões de portugueses.

O fluxo migratório deve-se a:

  1. Elevados salários nos outros países.
  2. Clima de repressão política interna.
  3. Rejeição de muitos face ao recrutamento para a Guerra Colonial.

Grande parte da emigração foi clandestina. Isto aconteceu porque:

  1. Era necessário um certificado de habilitações mínimas (exame de 3ª classe).
  2. Era necessário ter mais de 14 anos.
  3. Serviço militar cumprido (Guerra Colonial).

O Estado, apesar da emigração, tentou salvaguardar, igualmente para si, alguns requisitos:

  • Acordos com os países de destino.
  • Obtenção de regalias sociais.
  • Livre transferência, para Portugal, das renumerações amealhadas (6% do PIB em 1970)

Consequências para Portugal da emigração:

  • Sinal de pobreza e de subdesenvolvimento do país.
  • Desfalque do país de trabalhadores.
  • Envelhecimento da população.
  • Fator de pacificação social e equilíbrio económico (ajusta mercado de trabalho e faz entrar volumosas quantias).
  • Abalo das velhas estruturas rurais (imobilismo do regime).

O surto industrial

A política de autarcia não atingiu os seus objetivos:

  1. Portugal continuou dependente do fornecimento estrangeiro.
  2. Abastecimentos (pós-guerra) tornaram-se precários.

Assim, irá surgir a Lei do Fomento e Reorganização Industrial (1945), que estabelece as linhas mestras da política industrializadora, considerando que o seu objetivo final é a substituição das importações. Assim, foram elaborados os Planos de Fomento:

  1. I Plano de Fomento (1953-1958):
    • Importância da industrialização para o progresso do país, dando prioridade à criação de Infra-Estruturas (eletricidade, transportes e comunicações).
  2. II Plano de Fomento (1959-1964):
    • Importância da indústria transformadora de base (siderurgia, refinaria de petróleos, adubos, químicos, celulose, …)
  3. Anos 60 (Dentro do II Plano de Fomento):
    • Jan/1960: Portugal torna-se um dos países fundadores da EFTA – Associação Europeia do Comércio Livre. Reúne 7 países que, por diversas razões, não pretendem aderir à CEE.
    • 1960: BIRD e FMI surgem.
    • 1962: GATT.
      • Estas novas adesões marcam a inversão da política de autarcia do Estado Novo. O grande ciclo salazarista aproximava-se do fim.
  4. III Plano de Fomento (1968-1973):
    1. Organizado por Marcello Caetano, com uma orientação completamente nova.
      • Procura-se o normal funcionamento da concorrência e do mercado.
      • Procura-se a concentração empresarial.
      • Política agressiva de exportações e na captação de investimentos, sobretudo se portadores de novas tecnologias. “Pensem mais no futuro que no passado” (Marcello Caetano apela ao dinamismo dos empresários).
    2. Consequências:
      • Consolidação dos grandes grupos económico-financeiros.
      • Acelerar do crescimento nacional.
    3. Contudo:
      1. A guerra colonial não permitiu maiores avanços, bem como défices estruturais face à Europa desenvolvida.

A urbanização

Anos 50 e 60:

  • Processo de urbanização acelerou-se e absorveu, em parte, o êxodo rural, sobretudo nas zonas da “Grande Porto” e “Grande Lisboa”.
  • Crescimento urbanístico é acompanhado pela construção das infraestruturas necessárias a uma população de poucos recursos.

Efeitos negativos:

  • Falta de habitações sociais, estruturas sanitárias, transportes eficientes.
  • Construções clandestinas, barros de lata e degradação das condições de vida.

Efeitos positivos:

  • Expansão do setor dos serviços.
  • Maior acesso ao ensino e aos meios de comunicação. Forma-se um conjunto populacional numeroso e escolarizado, capaz de intervir social e politicamente.

Fomento económico nas colónias

O segundo pós-guerra marca uma viragem na político económica colonial.

Até aos anos 40:

  • Colonialismo típico: produção de produtos primários, desencorajamento do desenvolvimento industrial.

Depois dos anos 40:

  • Reforço da colonização branca.
  • Escalada dos investimentos públicos e privados.
  • Maior abertura ao capital estrangeiro.
  • Atenção privilegiada a Angola e Moçambique. Os Planos de Fomento irão incluir verbas para o ultramar, crescentes e significativas.

Numa política concertada com a metrópole, o Estado procedeu nas colónias:

  1. Criação de infraestruturas:
    1. Caminhos de ferro, estradas, pontes, aeroportos, portos, centrais hidroelétricas.
  2. Desenvolvimento do setor agrícola:
    1. sisal, açúcar, café em Angola.
    2. oleaginosas, algodão e açúcar em Moçambique.
  3. Desenvolvimento do setor extrativo:
    1. diamantes, petróleo e minério de ferro em Angola.

No setor industrial assistimos a:

  1. Acentuado crescimento.
  2. Progressiva liberalização da iniciativa privada (anos 50 e 60).
  3. Expansão do mercado interno (devido ao afluxo de colonos brancos).
  4. Reforço dos investimentos nacionais e estrangeiros.

Ao contrário do que seria de prever, o fomento económico das colónias recebeu um forte impulso após o início da guerra colonial:

  • Coincide com a época de maior dinamismo da economia portuguesa.
  • Coincide com a necessidade de legitimar, aos olhos do mundo, a presença portuguesa nos territórios além-mar.

2.1.2 A radicalização das oposições e o sobressalto político de 1958

Nos dias 7 e 8 de Maio de 1945: fim da II Guerra Mundial, queda da Alemanha. Regimes repressivos de direita caem.

Salazar tirou as devidas ilações deste fato:

  • Antecipou a revisão constitucional.
  • Dissolveu a Assembleia Nacional.
  • Convocou eleições antecipadas “tão livres como na livre Inglaterra“.

Para as eleições, foi criado um novo partido, o MUD (Movimento de Unidade Democrática):

  • Criada a 8 de outubro, no Centro Republicano Almirante Reis.
  • Congrega as forças clandestinas da oposição.
  • Reúne-se, em pouco tempo, as 50.000 assinaturas e as adesões alastram por todo o país.

O MUD tem algumas exigências para legitimar o ato eleitoral:

  1. Adiamento das eleições por seis meses, a fim de se instituirei partidos políticos.
  2. Reformulação dos cadernos eleitorais, que abrangiam apenas 15% da população.
  3. Imprescindível liberdade de opinião, reunião e informação.

As exigências saíram goradas. O MUD desistiu à boca das urnas por considerar que o ato eleitoral não passaria de uma farsa.

A oposição, agora na posse dos nomes dos membros, efetua uma repressão eficaz e cirúrgica: muitos aderentes foram interrogados, presos ou despedidos do seu trabalho.

 

A guerra fria e o anticomunismo

Dado que a Guerra Fria começou a tomar conta da Europa, e o comunismo é visto como uma aversão da democracia na Europa, o anticomunismo de Salazar começou a ser aceite internacionalmente pois servia o interesse destes. Além do anticomunismo de Salazar, Portugal torna-se, em 1949, membro fundador da Nato.

Em 1949, as forças oposicionistas voltam a ter nova oportunidade de mobilização, desta vez em torno de Norton de Matos nas eleições presidenciais.

Apesar de ser a primeira vez que tal acontecia, devido a uma forte repressão, Norton de Matos apresentou igualmente a sua demissão, pouco antes das eleições.

Nos anos que se seguiram, a oposição democrática dividiu-se e enfraqueceu-se. Mas em 1958, temos a candidatura do General Humberto Delgado (“General Sem Medo”) a novas eleições presidenciais:

  1. Oriundo das fileiras do Estado Novo.
  2. Apresenta-se como independente e anuncia o seu propósito de não desistir e demitir Salazar, caso viesse a ser eleito.

Os resultados:

  • Almirante Américo Tomás “ganha” as eleições com 75% dos votos.

Perante a mobilização popular que houve em torno do General Humberto Delgado, Salazar:

  • anulou o sistema de sufrágio direto, passando o chefe de Estado a ser eleito por um colégio eleitoral restrito.
    • Contudo, a imagem do regime estava abalada.

Entre 1959-62:

  • Forte recrudescimento da oposição:
    • Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, escreve uma carta dura a Salazar: denuncia a miséria do povo e a falta de liberdades cívicas. Será exilado por 10 anos.
    • Regime faz 1200 presos políticos e reprime, com mortos e feridos, as manifestações do 31 de Janeiro, do 5 de Outubro e do 1º de Maio.
    • General Humberto Delgado parte para o exílio no Brasil.
  • Aprisionamento do navio português “Santa Maria”, tomado de assalto, a 22 de janeiro de 1961, por um comando revolucionário encabeçado por Henrique Galvão, em pleno mar das Caraíbas.
    • a nível internacional, este ato é visto como um ato de protesto político. Os “piratas”, como Salazar chamou, são entregues, são e salvos, no exílio do Brasil.
  • Início da Guerra Colonial.

 

2.1.3 A questão colonial

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