D1 – O desenvolvimento económico, relações sociais e poder político

Posted: May 4, 2014 in Uncategorized
O dinamismo do mundo rural nos séculos XII e XIII
A expansão territorial da Europa Cristã
 
A partir do século XI, os povos cristãos da Europa conseguiram fortalecer as suas fronteiras e a sua segurança. Nestas novas condições, a servidão tendeu a desaparecer na Europa Ocidental.
 
Novos espaços e desenvolvimento da agricultura
Nos séculos XII e XIII, a Europa conheceu uma grande prosperidade económica, que melhorou as condições de vida da população
Temos:
 
  1. Crescimento da superfície cultivada (abate de bosques e florestas ou ao desbravamento de matos para preparar as terras para o cultivo – arroteias)
  2. Drenagem de pântanos (agricultura ou pastoreio).
  3. Exploração mais intensiva da terra:
    • Substituição dos arados de madeira por charruas com peças metálicas (lavra a terra mais profundamente).
    • Difusão do afolhamento trienal, que deixa, em pousio, apenas um terço de terras (em vez de metade, como até então), o que permitia uma rotação de culturas mais produtiva.
  4. Difusão de moinhos (vento ou água): facilita a moagem de grãos.
  5. Técnicas de regadio e novas culturas (influência árabe).
 
O crescimento demográfico.
As consequências:
  • Produção de alimentos aumentou.
  • Diminuição da fome e da mortalidade.
  • Aumento da natalidade.
  • Forte crescimento demográfico (1000 e 1300).
    • Estimula a ocupação de novas terras e expansão territorial.

 

As inovações nos transportes

Os excedentes agrícolas, tornados possíveis pelo aumento da produção, incentivaram as trocas dentro de cada região. Para isso passou a ser necessário transportar mais mercadorias:

  • Almocreves: homens que levam mercadorias de terra em terra no dorso de animais de carga.
  • Atrelagem com coelheira: carroças atreladas a animais, por vezes em fila. Aumenta a capacidade de esforço dos animais.
  • Ferragem dos cascos de muares e cavalos.
  • Rios e ligações entre povoações costeiras.
    • Leme fixo à popa: mais fácil de manobrar o barco.
    • Instrumentos de orientação: bússola, astrolábio e portulanos (mapas com indicações muito precisas sobre o recorte da costa e a localização dos portos).

As feiras e a animação das cidades

A maior facilidade de transportar as mercadorias e o aumento do volume de produtos disponíveis para a troca criaram condições para a concentração de vendedores e compradores num mesmo local:

  1. Mercados: habitantes e imediações encontravam-se em dias fixos e regulares, para porem à venda o que lhes sobrava ou comprarem o que lhes faltava.
  2. Venda de produtos permitiu a troca de bens produzidos pelos artesãos das cidades (roupas, instrumentos de trabalho ou utensílios domésticos). Leva ao crescimento da indústria artesanal e dos ofícios.
  3. Burguesia: novo grupo social associado a este crescimento.
  4. 1ª Feira: Ponte de Lima, 1125.

 

Os senhores, os concelhos e o poder régio em Portugal

A permanência da sociedade senhorial

As sociedades europeias continuaram dominados pelos:

  • Reis.
  • Alto Clero.
  • Nobreza Senhorial.

Os senhorios laicos e os senhorios eclesiásticos

No esforço de expandir o território para sul à custa dos Muçulmanos, os primeiros reis portugueses, valeram-se da ajuda dos nobres e do clero. Para assegurarem o povoamento das terras recém-conquistadas, concederam muitas delas a estes grupos sociais.

  • Noroeste: nobreza (terras chamadas de honras – ligados à participação das guerras da Reconquista).
  • Centro e Sul: doações à igreja, sobretudo às ordens religiosas. (Terras chamas de coutos). Temos as ordens religiosas e ordens religiosas militares, como Templários e Hospitalários.

As honras e os coutos eram privilegiados:

  1. Não pagam impostos ao rei.
  2. Aplicam justiça, salvo excepção de morte ou amputação de membros (decisão cabe ao rei).

O povo e a autonomia concelhia

  • Cartas de foral: estavam escritos os direitos e os deveres dos habitantes. Correspondem à formação dos concelhos.
  • Assembleia dos homens-bons: fazia as leis, julgava os criminosos, aplicava as penas e resolvia os problemas da vida em comunidade.
  • Autonomia do concelho: era representado pelo pelourinho.
  • Magistrados (escolhidos pela assembleia dos homens-bons):
    • Almotacé: fiscal de pesos, medidas e alimentos.
    • Mordomo: oficial de justiça e cobrador de impostos
    • Juíz: aplica a justiça.
    • Alcaide: mantinha o castelo e a defesa local, nomeado pelo rei.
  • Ricos:
    • Vizinhos mais ricos: cargos e homens-bons. Chamados de cavaleiros-vilãos (guerra a cavalo).
    • Vizinhos mais modestos: peões, fazem a guerra a pé.

Fortalecimento do poder real

O rei era:

  • O maior proprietário de terras (terras chamados de “Reguengos”)
  • O que recebia mais impostos.
  • Maior número de pessoas nos seus concelhios.

O rei:

  1. Legislava para todo o reino, detinha a «justiça maior» e geria o direito de apelação de todos os súbditos.
  2. Privilégio de cunhar moeda (regalia).
  3. Impunha leis de desamortização, que dificultavam a aquisição de mais terras pelo clero, impedindo-as de ficar isentos de impostos.
  4. Ordenava as inquirições, fiscalizando os abusos e as apropriações indevidas de propriedades reais pelos nobres e pelo clero.

O rei era ajudado por três oficiais:

  • Chanceler: redigia e selava os documentos.
  • Mordomo-mor: administrava as finanças e a casa real.
  • Alferes-mor: ajudava o rei nos assuntos da guerra.
  • Conselho ou Cúria (Cortes): conselho que o auxiliava, constituído por nobres e clérigos importantes, bem como legistas. Em 1254, passou a incluir representantes dos concelhos.

A cultura na sociedade medieval dos séculos XII a XIV

A vida do povo era marcada por:

  1. Ritmo anual dos trabalhos agrícolas.
  2. Festas celebradas coletivamente: Páscoa, São João, etc.
  3. Bailes, procissões e romarias.
  4. Cultura popular: provérbios, lendas e cantigas tradicionais.
  5. Espetáculos de rua, saltimbancos, malabaristas, contadores de histórias, jograis (frequentam também festas da nobreza).

A cultura monástica

Só nos mosteiros existia uma cultura mais erudita (própria das pessoas cultas):

  • Os monges eram o grupo social em que a leitura e a escrita estavam mais difundidas: cópia de livros, estudo de livros na biblioteca e scriptorium do mosteiro. Livros decorados com iluminuras, caros e raros.
  • Dedicam-se ao saber: ensinam filhos dos nobres e alguns burgueses.
  • Escolas abertas a outros estudantes (mosteiros e catedrais).

A cultura cortesã

Nos palácios em que viviam os nobres e os reis (as suas cortes) começaram a ser cultivadas a leitura e audição de histórias e poemas em saraus, também abrilhantados com músicas e canções.

Temos:

  • Poemas cantados por jograis (cantores de origem humildes) ou trovadores (origem nobre).
  • Cantigas de escárnio e maldizer.
  • Cantigas de amor (dedicadas a uma dama).
  • Histórias relatadas nos romances de cavalaria.
  • Crónicas (relatos históricos escritos por ordem cronológica).
  • Livros de linhagens (genealogias e feitos de famílias nobres).

 

As ordens mendicantes e a universidade

Os Franciscanos e os Dominicanos

No século XIII, manifestava-se um grande descontentamento com a riqueza e o poder do alto clero e das ordens religiosas, que levou, em várias regiões da Europa, ao aparecimento de movimentos heréticos (contestavam as verdades defendidas pela Igreja).

Para contrariar esta situação temos ordens mendicantes (viviam das esmolas que mendigavam):

  • Franciscanos: fundados por São Francisco de Assis, em 1209.
    • Ensino de Teologia.
    • Proteção régia.
  • Dominicanos: fundados por São Domingos de Gusmão, em 1215.
    • Santarém sobretudo.

As novas instituições de ensino

As Universidades, também chamadas de Estudos Gerais, estavam abertas aos estudantes não pertencentes ao Clero, sobretudo jovens burgueses.

Mais importantes:

  • Bolonha: século XII.
  • Oxford: 1214.
  • Paris: 1215.
  • Lisboa/Coimbra: 1290 (Rei D. Dinis)

Disciplinas:

  • Artes Liberais (Trivium e Quadrivium).
  • Teologia.
  • Medicina.
  • Direito.

Do românico ao Gótico

Na época de consolidação da cristandade, depois do ano 1000, desenvolveu-se o Estilo Românico, sobretudo em mosteiros e igrejas de peregrinação.

Os principais elementos que identificam a estrutura dos edifícios românicos são:

  1. Planta, em forma de cruz latina, com uma ou três naves.
  2. Paredes grossas reforçadas por contrafortes, situados no exterior e reforçando as paredes.
  3. Arcos redondos (ou de volta inteira ou perfeita), no interior e nos portais.
    • Pequenas (estrutura pesada).
    • Pouco iluminada pela luz natural.

A escultura e a pintura românicas

Predominam:

  1. Figuras rígidas e majestosas de Cristo, dos apóstolos ou da Virgem Maria, com a função de contarem a história de Jesus a uma população analfabeta. Também eram retratadas cenas da vida quotidiana, elementos vegetais, demónios ou animais imaginários.
  2. Pintura: frescos coloridos (igrejas) e Iluminuras (livros).

Arquitetura Gótica

No século XII espalhou-se também uma visão mais positiva da religião: «Deus é Luz». Apareceu o Gótico, com a construção de grandes catedrais:

  1. Arcos ogivais (ou quebrados): substituem os arcos redondos (ou de volta inteira) nos portais e que, cruzando-se nas abóbadas, permitem suportar uma área maior do teto, criando um espaço mais amplo no interior da Igreja.
  2. Arcobotantes: são contrafortes em forma de arco exterior e absorvem a pressão colocada sobre as paredes. Isto permite a abertura de amplas janelas e rosáceas nas paredes por onde entra a luz natural, tornando o edifício mais iluminado.
  3. Caraterísticas:
    • Construções mais leves, verticais e iluminadas.
    • Decorações com vitrais, colocados nas janelas, representavam cendas da vida de jesus, dos apóstolos e dos santos e davam um novo colorido luminoso ao interior.
    • Afirmação da burguesia, que as financiava.

A escultura e a pintura góticas

  • Manteve-se a mesma temática religiosa e pedagógica que no Românico, embora já surgissem temas profanos ou relacionados com a Antiguidade Greco-Romana.
  • Mais realistas, maior sensação de movimento e naturalidade nas expressões faciais e corporais.

O Românico em Portugal

A influência da Ordem de Cluny durante o período da Reconquista (do século XI para o século XII) trouxe ao território português, vindo de França, o estilo românico.

Caraterísticas:

  • Muitas das pequenas igrejas são remodelações em estilo romãnico de antigos edifícios dos tempos visigodos, uns abandonados, outros ocupados pelos moçarabes. Também há de raíz.
  • Sés Catedrais de Braga, Coimbra e Lisboa. Domus Municipalis de Bragança é o único exemplo de arquitetura civil (não religiosa).
  • Aparecem sobretudo na metade norte do território português, devido à Reconquista Cristã (foi o 1º espaço a ser conquista e o 1º a ser trabalhado).

O Gótico Português

Coincidiu com a influência das ordens mendicantes. Temos:

  • Igrejas de São Francisco e Santa Clara de Santarém.
  • São Domigos de Elvas.
  • São Francisco de Estremoz.
  • Sés Catedrais, Braga, Porto, Évora e Viseu.
  • Já gótico:
    • Sés da Guarda e Silves.
    • Abadias ou mosteiros de Alcobaça e da Batalha.
  • Pinturas: sobretudo iluminuras.

 

 

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