1.1 Um novo equilíbrio global
Período: Fim da I Guerra Mundial (1914-1918). Situação: Europa destruída, perda da liderança a nível mundial para novos países, nomeadamente EUA e Japão.
Conferência de Paz de Paris, Janeiro de 1919 (Tratado de Versalhes)
França: Clemenceau; Grã-Bretanha (Irlanda, Escócia, Inglaterra, …): Lloyd George; EUA: Wilson;
Os 14 pontos de Wilson (carta de intenções):
- Diplomacia
- Liberdade de navegação e trocas.
- Redução dos armamentos (Alemanha, Itália, … ou seja, os países que levaram!)
- Respeito com as nacionalidades (respeitar etnias/religiões diferentes).
- Criação de uma Liga de Nações (exemplo: Liga de Futebol) – SDN
Dos vários tratados assinados, criou-se:
- Nova Geografia Política (surgem novos países, novas linhas de fronteira, com diferentes ideologias/pensamentos).
- Nova Ordem Internacional (EUA, Japão)
- Tratado de Versalhes.
1.1.1 Nova geografia política –Nacionalidades e Democracia
Os Tratados de paz conduziram a uma profunda transformação do mapa da Europa e do Médio Oriente.
As transformações:
- Império Russo: revolução de outubro de 1917 (Revolução Bolchevista).
- Impérios Alemão e Austro-Húngaro e Otomano: desmoronaram-se, surgem novos países.
- Outros Estados ampliam as suas fronteiras.
As perdas para os vencidos:
- Alemanha:
- Perdeu:
- Colónias;
- Frota de guerra;
- Parte da frota mercante;
- Minas de carvão;
- Tem de reparar financeiramente os prejuízos causados pela guerra.
- Perdeu:
Sociedade das Nações – SDN
A Sociedade das Nações tem como objetivos:
- Cooperação entre os povos.
- Promoção do desarmamento.
- Solução dos problemas entre países pela via pacífica/diálogo.
Os organismos são os seguintes (toma-os como referência. Dificilmente irá sair):
- Assembleia Geral.
- Secretariado: preparação dos trabalhos.
- Tribunal Internacional de Justiça (Atualmente é o Tribunal de Haia).
- Banco Internacional. Empréstimos, dinheiro – dar dinheiro à economia para não parar.
- Organização Internacional do Trabalho (OIT).
- Comissão Permanente dos Mandatos.
Porque motivos a Sociedade das Nações falhou então?
- Os povos vencidos não participaram nos Tratados. Basicamente ficaram apenas com a fatura para pagar (Está no Tratado de Versalhes).
- Exclusão de países fortes, como a Rússia Soviética e a Alemanha como Estados membros.
- Nem todos os países vencedores ficaram satisfeitos com as condições, como Itália e Portugal.
- EUA não retificaram o Tratado de Versalhes e deixaram de participar na Sociedade das Nações.
- Conclusão: apenas um grupo restrito de países vencedores fazem parte da Sociedade das Nações. Nem todos estão incluídos.
O declínio da Europa (página 20)
A Europa estava destruída:
- Dificuldades de reconversão das fábricas (muitas tinham sido usadas para fazer armas).
- Morte de muita população ativa (sobretudo os mais novos, foram “ceifados” pela guerra).
- Campos queimados/destruídos. Exemplo: preço do cereal dispara.
- Fábricas, minas e barcos ficaram destruídas.
- Finanças desorganizadas.
- Conclusão:
- A Europa continuou compradora de bens e serviços americanos
- Endividamento agravou-se. Problema dos juros: tens de pagar o que deves mais os juros.
- A Europa continuou compradora de bens e serviços americanos
- Conclusão:
Situações criadas perante este cenário:
- Emissão, em grandes quantidades, de moedas e notas para multiplicar meios de pagamento. Contudo, como não há aumento de produção, assiste-se a uma desvalorização monetária (devido à alta de preços).
- Fraqueza da moeda europeia.
- Inflação galopante: os preços aumentam vertiginosamente, fazendo como que fosse muito difícil adquirir certos bens e serviços. A moeda perde valor.
A ascensão dos EUA e a recuperação europeia
Os EUA ascendem a potência número 1 a nível mundial. A Europa, dominadora absoluta até 1914 (antes da I Guerra Mundial), perde o lugar. Eis alguns motivos:
- Fornecedores dos países em guerra e dos mercados mundiais (durante a guerra – só entram em 1917). Além do mais, a guerra não chegou a território dos EUA propriamente dito.
- Detêm uma elevada parcela do ouro mundial.
- Enorme capacidade de produção.
- Prosperidade da balança de pagamentos.
- São os EUA que mais dinheiro emprestam aos vários países na Europa. Como tal, a Europa fica dependente dos EUA.
No entanto, tenha-se em atenção que é a procura externa que determina as vendas, pelo que uma diminuição da mesma pode trazer uma crise, mesmo que breve, como aconteceu entre 1920-21. Nesta período desce a produção industrial, descem os preços e o desemprego aumenta.
Para aumentar a produção, tomaram-se algumas medidas:
- Taylorismo:
- método de racionalização do trabalho a fim de diminuir os custos de produção.
- Trabalho em cadeia: cada operário executa uma operação específica no trabalho, o que diminui o tempo de execução da mesma.
- Produção em massa: torna o bem acessível à maior parte das pessoas devido ao menor custo e melhoria do lucro final. “Podes escolher a cor do carro que quiseres, desde que seja preto” (Henry Ford)
- Concentração capitalista de empresas.
Loucos Anos 20
Entre 1925 e 1929, o capitalismo atinge um dos seus picos nos EUA, com um clima de optimismo e confiança:
- Indústrias:
- Produção de petróleo.
- Produção de eletricidade.
- Indústria da siderurgia.
- Indústria química.
- Elevado índice consumista. Exemplo: eletrodomésticos e automóveis.
1.2 A implantação do marxismo-leninismo na Rússia: a construção do modelo soviético
1905 – 1ª Tentativa de tirar o czar do poder.
Outubro de 1917 – Rússia torna-se o primeiro Estado Socialista do mundo.
1917 – O ano das revoluções
Situação da Rússia de 1917:
- Governado autocraticamente pelo czar Nicolau II.
- Inúmeras tensões sociais e políticas.
- Camponeses (85% da população) clamam por terras, concentradas nas mãos dos grandes senhores e latifundiários.
- Operariado, escasso mas fortemente reivindicativo, exige maiores salários e melhores condições de vida e de trabalho.
- Burguesia e nobreza liberal: desejam abertura política e modernização do país.
A contestação política apresentava 3 grupos:
- Socialistas-revolucionários: reclamam a partilha de terras.
- Sociais-democratas: divididos em bolcheviques e mencheviques.
- Bolcheviques (maioritários): defendiam a luta de classes e a ditadura do proletariado.
- Mencheviques (minoritários)
- Constitucionais-democratas: parlamentaristas (estilo ocidental).
Da revolução de fevereiro à Revolução de outubro
Revolução de fevereiro
Acontecimentos:
- Os sovietes – operários reúnem-se numa Assembleia Popular e surgem violentas manifestações.
- Com o apoio dos militares, o czar é forçado a abdicar a 2 de Março. A Rússia torna-se uma República.
Figuras:
- Lvov e depois Kerensky
Objetivos:
- Instauração de uma democracia parlamentar.
- Continuação da guerra com a Alemanha, que acreditava poder ganhar (I Guerra Mundial).
Revolução de outubro (regresso de Lenine à Rússia)
- Sovietes (constituídos por operários, camponeses, soldados e marinheiros) são controlados pelos bolcheviques.
- Apelam (“Teses de Abril“):
- Retirada da Rússia da guerra.
- Derrube do governo provisório (apelidado de burguês)
- Entrega do poder aos sovietes.
- Confiscação das grandes propriedades.
A Revolução (24 e 25 de Outubro)
- Guardas Vermelhos (Milícias bolcheviques) controlam pontos estratégicos da cidade. Assaltam o Palácio de Inverno e derrubam o Governo Provisório nele sediado.
- Formação do Conselho dos Comissários do Povo (instaurado no II Congresso dos Sovietes, em Petrogado), maioritariamente bolcheviques, com a seguinte composição dos principais cargos:
- Lenine ocupa a presidência.
- Trotsky a Pasta da Guerra.
- Estaline Pasta das Nacionalidades.
Como tal, os representantes do proletariado, e como Marx preconizara, conquistam o poder político, pela luta de classes e pela revolução.
1.2.2 Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático
A democracia dos sovietes; dificuldades e guerra civil (1918-1920)
O novo governo tomou uma série de medidas:
- Decretos:
- Decreto sobre a Paz: será assinado o Tratado de Brest-Litovsk com a Alemanha.
- Decreto sobre a terra: aboliu, sem indemnização, a grande propriedade, entregando-a a sovietes camponeses.
- Decreto sobre o controlo operário: atribuí aos operários das empresas a superintendência e a gestão da respetiva produção.
- Decreto sobre as Nacionalidades: confere, a todos os povos do antigo Império Russo, o estatuto de igualdade e o direito à autodeterminação.
- …
Os problemas
- Proprietários e empresários criavam os maiores obstáculos à aplicação dos decretos relativos à terra e ao controlo operário.
- O regresso de 7 milhões de soldados, com os seguintes problemas:
- Sem hipótese imediata de reintegração na vida civil.
- Persistia da carestia (falta de bens de primeira necessidade)
- Inflação (subida/disparo dos preços).
- Consequência: as pessoas não aderem, assim tão facilmente, ao projeto ntebolchevique! (apenas obtiveram 25% dos votos)
Guerra Civil (1918-1920)
Luta entre bolcheviques (exército vermelho) e mencheviques (exército branco).
Brancos: apoio da França, EUA, Japão. Desejosos de evitar a expansão do bolchevismo.
Exército vermelho sai vencedor, pois é mais disciplinado e coeso. Organizados por Trotsky.
O Comunismo de guerra, proletariado (1918-1921)
Ditadura do proletariado:
- Servindo-se da “supremacia política”, o proletariado retiraria “todo o capital à burguesia”.
- Centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, entendido como representante legítimo e exclusivo do proletariado. Karl Marx chama a isto de “Comunismo” – “a forma mais alta de organização da sociedade”.
Com a guerra civil, Lenine percebeu que o comunismo, com o Estado a representar o proletariado, só iria se manter com uma mão forte do poder, mesmo que à força. Chamamos a isto de Comunismo de Guerra, com um caráter violento e implacável:
- Democracia dos Sovietes (Conselhos de operários, marinheiros, … – II Congresso dos Sovietes) chega ao fim com o abandono dos decretos revolucionários que concediam a terra aos camponeses e o controlo das fábricas aos operários.
- Toda a economia foi nacionalizada, deixa de haver privados e controlo privado (muito do lucro ficava no privado) e passa para as mãos do Estado.
- Obrigaram-se os camponeses a entregar as colheitas.
- Bancos, comércio interno e externo, frota mercantil são nacionalizadas (empresas com mais de 5 operários)
- Distribuição de bens passa a pertencer ao Estado, de acordo com os novos critérios de Justiça Social.
Além disso, o bolchevismo:
- Instaurou o trabalho obrigatório dos 16 aos 50 anos.
- Prolongou o tempo de trabalho (número de horas).
- Reprimiu a indisciplina.
- Atribui o salário de acordo com o rendimento.
- Promoção cultural: combate ao analfabetismo; nacionalizaram-se museus, obras artísticas, etc, declarados património do Estado e do Povo.
Ditadura do Proletariado/Partido Comunista
- Dissolve a Assembleia Constituinte (1918).
- Todos os partidos foram proibidos, com exceção do comunista (1922).
- Período de Terror (Tcheca – Policia Política):
- Elevados poderes.
- Não há justiça organizada.
- Prendia os suspeitos e julgava-os rapidamente… com execuções sumárias.
O centralismo democrático
Como é que eles centralizaram o poder?
- URSS: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (1922)
- Estado multinacional (muitos países) e federal (cada um deles obedece à Rússia).
- Igualdade de Direitos.
- Dispunham de uma Constituição (cada país) e uma “certa” autonomia (tipo Madeira e Açores).
- Centralismo democrático:
- Estado forte, disciplinado e democrático.
- Sovietes:
- Os sovietes são escolhidos por sufrágio universal.
- Âmbito local e regional.
- Representam o conjunto das repúblicas federadas e diferentes nacionalidades.
- Os sovietes são meros instrumentos de transmissão entre o governo, os partidos e o povo.
- O Congresso dos Sovietes reúne-se apenas uma vez por ano.
- Designa as pessoas para o Comité Executivo Central:
- Parlamento dotado de duas câmaras: Conselho de União e o Conselho das Nacionalidades.
- Orgãos do poder executivo: o Presidium; o Conselho dos Comissários do Povo (espécie de conselho de ministros, a quem pertence o poder real)
- Designa as pessoas para o Comité Executivo Central:
Por isso, ao contrário do Ocidente, onde o Estado é neutro e se distancia dos Partidos, na Rússia comunista o Estado identifica-se com a organização partidária (Partido Comunista), que dele se apropria. Por outras palavras, o Partido faz o que o Governo manda.
O Estado forte e democrático da URSS era, por conseguinte, impensável no quadro do pluralismo partidário, à maneira ocidental (onde existem imensos partidos políticos), em que os diferentes grupos de opinião e ideologias têm direito a representação política.
Cronologia:
1905 – Massacre no Palácio de Inverno, onde o povo se manifestou.
1914-1918 – I Guerra Mundial.
1917 – Revolução de Fevereiro. Queda do Czar e subida ao poder provisório de Kerensky. Rússia não sai da Guerra! (erro fatal!)
1917 – Revolução de Outubro. Karl Marx é o que teoriza as ideias Comunistas (Luta de classes e socialismo); Lenine assume o poder (marxismo). Força do Proletariado (industrias, povo, militares) e dos Sovietes (congressos locais).
1918-1920 – Guerra Civil entre bolcheviques (vermelhos – maioritários) e mencheviques (brancos – minoritários – querem o sistema político tipo ocidente). Vitória para os bolcheviques.
1918-1921 – Comunismo de Guerra e ditadura do Proletariado. Lenine apercebe-se que é necessário um estado forte para controlar. Por isso, as ideias dos congressos, dos militares, dos camponeses, etc, vão ficar ligadas, através do Partido Comunista, ao Governo.
– Centralismo democrático. Centralizar o poder. Não há pluripartidarismo (vários partidos), há só um e todas as instituições/pessoas seguem a ideologia do Partido Comunista que está ligado ao Governo.
Nova Política Económica (1921-1927)
Os russos pagaram um preço bem alto pela Guerra Civil (1918-1920).
Como é que estava a URSS?
- Produção de cereais desceu para metade (preço aumenta).
- Obrigado à requisição de géneros (armazém comunitário). Muitos camponeses não gostam de dar a produção e destroem a mesma.
- 1920/1921 – 3 milhões de mortos à fome (Inverno rigoroso).
- Produção industrial desce 3 / 4 em relação a 1913.
- Minas de hulha (carvão) paralisados.
- Caminhos de ferro paralisados.
Lenine foi alertado que o socialismo iria “à ruína” se não desenvolve-se a indústria na versão capitalista.
As medidas do NEP:
- Recuperação agrícola:
- Requisições obrigatórias foram substituídas por um imposto em géneros (em alimentos, não em dinheiro).
- Coletivização agrária (armazém comunitária) foi interrompida.
- Camponeses são estimulados a aumentar a produção (terrenos incultos, ou seja, terrenos que não eram cultivados – 25% para 2,6%) (produção de trigo duplicou).
- Indústria:
- Desnacionalizaram-se as empresas com menos de 20 operários, ou seja, vão ficar privadas novamente.
- Fomentou-se o investimento estrangeiro (Capitais mistos) – técnicos, máquinas e matérias-primas.
- Fim do trabalho obrigatório.
- Atribuição de prémios.
- Primeiras centrais hidroelétricas (menos dependência do carvão).
- Produção de Hulha, petróleo e aço aumenta significativamente.
- Camponeses (kulaks)
- Comerciantes (nepmen).
A regressão do demoliberalismo
O impacto do socialismo revolucionário; dificuldades económicas e radicalização dos movimentos sociais; emergência dos autoritarismos
O Komintern e o impacto do socialismo revolucionário
O estímulo fornecido pela Rússia Soviética à causa do socialismo revolucionário sentiu-se mais fortemente após a fundação, em Moscovo (Março de 1919), da III Internacional, também chamada de Internacional Comunista ou Komintern.
O Komintern propunha-se:
- Coordenar a luta dos partidos operários a nível mundial, para que o marxismo-leninismo triunfasse.
- Se outros países aplicassem a ditadura do proletariado, cessariam os respetivos boicotes e oposições à Rússia Soviética (mencheviques foram oposição contra bolcheviques – guerra civil – e eram apoiados pelos países europeus).
- Segundo Lenine e Trotski (mentores do Komintern): revolução socialista europeia deveria ser conduzida por partidos comunistas decalcados do modelo russo e fiéis ao marxismo-leninismo.
Radicalização social e política
Alemanha:
- Tumultos revolucionários remontam à capitulação perante os Aliados (novembro de 1918).
- Constituiram-se conselhos de operários, soldados e marinheiros, inspirados nos sovietes russos e, em Berlim, os espartaquistas – fação radical do Partido Social-Democrata alemão – pegam em armas e proclamam uma “república socialista” – serão executados pelo governo. O proletariado alemão passou a hostilizar a República de Weimar, assim chamada por ter sido na cidade de Weimar que a Assembleia Constituinte elaborou e aprovou, entre fevereiro e agosto de 1919, a Constituição da República Alemã.
Hungria:
- Durou de março a agosto de 1919. Fracassou.
Itália:
- verão de 1919, camponeses ocupam terras incultas. Milicias afastam os ocupantes.
- 1920: greve dos metalúrgicos de Turim, desencadeou uma vaga de ocupação de fábricas. Falta de créditos e bancários e acordo entre Governo e outros, marca o fim da greve.
Grã-Bretanha, França, Portugal
- Greves e tumultos.
Emergência de autoritarismos
Medo da revolução bolchevique na Europa:
- a grande burguesia proprietária e financeira, a quem jamais poderia agradar o controlo operário e camponês da produção.
- Classes médias de funcionários e pequenos-burgueses.
- Inflação consumia o poder de compra e quase as reduzia ao nível dos proletários.
- Regalias sociais concedidas aos “insurretos” pelos governos democráticos que elas haviam ajudado a eleger.
- Coro de protesto que atribuíam à democracia liberal, e nomeadamente ao parlamentarismo, a instabilidade política e a incapacidade de resolução da crise económica e social. Acabam a defender um governo forte como garantia da paz social, da riqueza e da dignidade.
- Marcha de Mussolini, Ditadura Militar do general Miguel Primo de Rivera (apoio do rei Afonso XIII) – suspendeu a Constituição, dissolveu as Cortes e suprimiu os partidos políticos.
A emergência dos autoritarismos confirma, de facto, a regressão do demoliberalismo.
1.4. Mutações nos comportamentos e na cultura
1.4.1 As transformações da vida urbana
Século XX foi o século das grandes cidades
- Pela primeira vez na história, no mundo industrializado, a população urbana superou a das zonas rurais.
A nova sociabilidade
- O indivíduo perde-se no meio da multidão.
- Lazeres tendem para a massificação:
- cafés, esplanadas, cinemas, salões, espectáculos desportivos.
- Convivência entre os sexos torna-se mais livre e ousada.
- Fomento da prática desportiva. Ritmo de vida, outrora lento e pacato, acelera-se e, nos anos 20, torna-se quase frenético.
- Rutura com os valores e convenções da rígida moral oitocentista.
A crise dos valores tradicionais
- A brutalidade da Primeira Guerra Mundial pôs em causa as instituições, os valores espirituais e morais, todo o edifício social que tinha sustentado a ordem burguesa do século XIX.
- O impacto da destruição gerou um sentimento de descrença e pessimismo.
- Vaga de contestação a todos os níveis abalou a sociedade.
- Clima de anomia: ausência de normas morais e sociais que, com clareza, distinguissem o certo e o errado.
A emancipação feminina
- Remonta ao século XIX.
- por volta de 1850, as reivindicações centravam-se no direito das mulheres casadas à propriedade dos seus bens, à tutela dos filhos, ao aceso à educação e a um trabalho socialmente valorizado.
- Por volta de 1900:
- Direito de participação na vida política (direito ao voto).
- Feministas famosas: Emmeline Pankhurst.
- …
As convulsões da guerra vieram alterar este estado de espírito, com os homens nas trincheiras:
- mulheres viram-se libertas das suas tradicionais limitações como donas de casa, assumindo a autoridade do lar e o sustento da casa: fábricas, carros, materiais pesados, …
- No campo realizavam o trabalho masculino e mesmo na frente de batalha tornam-se imprescindíveis, assegurando os cuidados de enfermagem, com risco da própria vida.
Este esforço reforçou a autoconfiança feminina e granjeou-lhe a valorização social que até aí lhe faltava.
1.4.2 A descrença no pensamento positivista e as novas conceções científicas
Por meados do século XX, o positivismo estabelecera uma confiança absoluta no poder do raciocínio e da ciência:
- Filosofia (Henri Bergson): defende haver realidades que escapam às leis da Física e da Matemática e só podem ser compreendidas através de uma só via, a que chama intuição. O pensamento filosófico revaloriza o transcendente e, com ele, a imagem de Deus.
- Relativismo:
- Microfísica: o atómo não era a unidade mais pequena da Natureza. Abre à física este novo campo de estudos, com destaque para o alemão Max Planck.
- as trocas de energia não se fazem num fluxo suave e uniforme mas em pequeníssimas unidades separadas (a que chamou quantum – porção) que se movimentam a velocidades inimagináveis, em saltos bruscos e descontínuos.
- Teoria da Relatividade: Einstein destruiu as mais sólidas bases da Física ao negar o carácter absoluto do espaço e do tempo. Ninguém poderia imaginar que o tempo fosse uma variável e decorresse mais depressa ou devagar consoante a velocidade dos corpos.
- Relativismo aceita a subjetividade do conhecimento, o mistério e a desordem, como partes integrantes do Universo.
- Microfísica: o atómo não era a unidade mais pequena da Natureza. Abre à física este novo campo de estudos, com destaque para o alemão Max Planck.
- As conceções psicanalíticas
- Psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939): através do estado hipnótico, os pacientes recordavam-se de pensamentos, factos e desejos que aparentemente haviam esquecido – o inconsciente.
- O psiquismo humano estrutura-se em três níveis distintos: o consciente, o subconsciente e o inconsciente. Assim, a psicanálise trata destes elementos, terapêutica e inclusive de análise dos sonhos.
As vanguardas: ruturas com os cânones das artes e da literatura
- Cubismo
- Data: 1907
- Autores: Pablo Picasso
- Caraterísticas:
- As Meninas de Avinhão:
- Quadro desconcertante representado 5 mulheres nuas (bordel).
- Distorcidas e fragmentadas, preenchiam praticamente todo o espaço do quadro.
- Fortemente influenciados pelo geometrismo de Cézanne.
- Estilização volumétrica da arte africana.
- As Meninas de Avinhão:
- Cubismo Analítico
- Braque e Picasso geometrizaram e simplificaram formas (seguindo a lógica de Cézanne, que representou a Natureza através do cilindro, do cone e da esfera), num tratamento lógico e construtivo de volumes.
- A verdadeira novidade do cubismo não estava na geometrização dos volumes mas na destruição completa das leis da perspetiva. Estilhaçando o volume em vários planos que se justapõem. Por outras palavras: o pintor convencional pinta o que vê, os cubistas pintam aquilo que sabem que existe mas só poderiam ver em momentos sucessivos.
- As cores vão ser restringidas a uma paleta quase monocromática de azuis, cinzentos e castanhos, de forma a não perturbar o rigor geométrico da representação.
- Cubismo sintético. Os novos materiais
- Pelo fim de 1911, Braque e Picasso tinham levado o cubismo ao seu ponto extremo: o objeto fora totalmente desmantelado numa miríade de facetas e tornara-se, para o observador, irreconhecível! Como tal, é necessário um processo de reconstrução/recriação, até tendo em conta que os cubistas não querem praticar uma pintura abstrata.
- A cor regressa às telas e começam a utilizar novos materiais, que até então eram estranhos: papéis, cartão, tecidos, madeira, corda… Este novo material:
- Cria, com o relevo, novos planos no quadro.
- Enriquece as tonalidades do colorido confinadas, até então, ao uso da tinta.
- Acentua a essência e a verdade das representações (objetivo que o cubismo perseguia desde o início).
O cubismo irá também proporcionar meios de expressão a outras correntes.
- Expressionismo (1905)
- Alemanha: nasce em diversas cidades alemãs.
- Autores: Grupo revolucionário artístico Die Brucke (A ponte), Kirchner; Vassily Kandinsky e Franz Marc; Paul Klee.
- Caraterísticas:
- Foi uma tentativa de abalar o conservadorismo da arte oficial (Kaiser Guilherme II dava o exemplo do conservadorismo).
- Grito de revolta individual contra uma sociedade excessivamente moralista e hierarquizada, onde as inquietações da alma raramente se podia expressar, abafadas por normas e preconceitos.
- Arte impulsiva, fortemente individual, que representasse “diretamente e sem falsificações”.
- Desprezavam a técnica, pois, na sua opinião, o verdadeiro fim da obra de arte não se pode ensinar.
- Formas primitivas e simples.
- Utilizam grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas livremente.
- Temas:
- Temática pesada, com temas como angústia, desespero, morte, sexo e miséria social.
- Mostra as inquietações do pintor.
- Sociedade: Intenção de castigar o conservadorismo (seguem regras muito restritas, não há lugar para novos destaques) e a moral burguesa, pelo choque que provocavam.
- Temas:
- Fauvismo (“As feras” – designação dada por um jornalista)
- Salon D´Automn (1905) – primeira exposição fauvista.
- Autores: Henri Matisse, André Derain, Vlaminck.
- Caraterísticas:
- Colorismo muito intenso (cores fortes), de forma aparentemente arbitrária (à sorte).
- Parecem obras estranhas, quase selvagens.
- Primado da cor sob a forma: o colorido autonomiza-se completamente do real, isto é, não tem de concordar com as cores do objeto representado mas refletir a sua essência (aos olhos do pintor).
- “Uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas perturbadores ou deprimentes – algo como uma boa poltrona onde repousar a fadiga física”.
- Abstracionismo
- Autores: Kandinsky, Piet Mondrian
- Caraterísticas:
- Libertou-se do pormenor representativo.
- Passou a fazer maior apelo às emoções e à conceptualização de formas.
- Cores fortes e vibrantes.
- Objetos não são necessários à pintura, como até a prejudicavam.
- Kandinsky: A forma abstrata, porque se dirige à perceção sensorial (5 sentidos) comum à espécie humana é, tal como a música, uma linguagem universal. Por outras palavras, as abstrações de forma e de cor, tal como a música, atuam diretamente na alma.
- Obriga à correta combinação de formas e cores. Tal como notas de música, as formas e as cores da pintura não podem ser agrupadas ao acData:
Abstracionismo sensível ou lírico
- As formas e as cores, ao reproduzirem imagens figurativas, perdem muita da força expressiva que, por si mesmas, possuem, pois somos incapazes de as dissociar do significado do objeto.
- A forma abstrata, porque se dirige à perceção sensorial comum à espécie humana é, tal como a música, uma linguagem universal. Por outras palavras, as abstrações de forma e de cor, tal como a música, atuam diretamente na alma.
- Tal como as notas de música, as formas e as cores da pintura não podem ser agrupadas ao acaso…
Abstracionismo geométrico
- Autor em destaque: Piet Mondrian
- Procurou fazer da pintura um meio de expressar a verdade essencial e inalterável das coisas.
- Fundou a revista De Stijl (O Estilo), com o propósito de divulgar um novo conceito de arte a que chamou nova realidade (conhecida como neoplasticismo).
- Impressionado com a violência e o sofrimento de um mundo em guerra, Mondrian procurou, para o seu trabalho, uma função social além de uma nova dimensão estética. “A tragédia da vida” é o resultado do profundo individualismo que marca todas as realizações humanas, das políticas às culturais. Por isso, não deve ser objetivo do artista expressar o seu intímo e afirmar a sua originalidade, mas sim procurar as verdades universais, os valores últimos, essenciais e permanentes da vida e da realidade.
- Na obra de arte, implica a supressão e toda a emotividade pessoa e também de tudo o que é efémero ou acessório. Organizadas de forma rigorosa, estas formas exprimiriam a “realidade pura” que Mondrian tanto procurava.
- Dadaísmo (Dadã – bébé)
- Data: 1916 – 1922, Suiça. I Guerra Mundial (1914-1918)
- Autores: Duchamp (Sanita)
- Caraterísticas:
- Arte e Desordem, a nível internacional. Contra o mundo violento sacudido pela guerra, pela sociedade e pelas suas regras e pela própria arte.
- Unidos pela fome do absurdo, tentavam criar uma antiarte, negar o seu valor.
- Enorme movimento de subversão intelectual e artísticas das primeiras décadas do século.
- Caraterísticas:
- Futurismo
- Data: 1909, Europa (França, Itália, …)
- Autores:
- Caraterísticas:
- Rejeita o passado e glorifica o futuro.
- A máquina conquista o mundo moderno, assume lugar central.
- Ideia de velocidade.
- Fizeram vários Manifestos e várias exposições, cartazes, panfletos, revistas, conferências, soirées futuristas.
- Os futuristas aproximam-se dos cubistas e, com eles, partilham a decomposição fragmentada.
- Caraterísticas:
- Surrealismo
- Data: 1922
- Autores: Miró, Salvador Dali, René Magritte, Max Ernst.
- Características
- O culto ao absurdo tornara-se cada vez mais extremo e esgotava-se em repetições sucessivas, cujo impacto era cada vez menor.
- Manifesto do Surrealismo: Mistérios do inconsciente.
- Sob a influência de Freud e da psicanálise, a arte deve deslocar-se da realidade para o mundo da interioridade, procurado na mente do artista.
- Não pretende a intervenção do pensamento racional. Como tal, não segue regras formais.
- Teve bastante adesão internacional.
Os caminhos da literatura
No mundo das letras, a vastidão de temas e estilos assemelha-se ou ultrapassa até a complexidade do mundo das artes.
- Primeiras décadas de 1900:
- Libertação da obra literária face à realidade concreta.Foi abandonada a descrição ordenada e realista da sociedade e dos acontecimentos.
- As obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens, mais do que para a narrativa de uma ação. Exemplo: Marcel Proust.
- André Gide:
- Proclama a liberdade total do ser humano, o seu direito de tudo ousar, assim rejeitando as regras da moral, da família e da sociedade.
- Novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica: Apolinaire (fundo a palavra e a forma), dadaístas, como Hugo Ball, que transformam o nonsense em poesia.
Estas obras, embora pouco produtivas, romperam convenções e abriram portas a obras de grande valor, verdadeiramente inovadoras. Exemplo: Ulisses.
Portugal no primeiro pós-guerra
As dificuldades económicas e a instabilidade política e social: a falência da 1ª República.
A 1ª república portuguesa (1910-1926) esteve longe de proporcionar a acalmia de que o país tanto necessitava.
- O parlamentarismo contribuiu para uma crónica instabilidade governativa (16 anos, 45 governos, 8 Presidentes da República).
- Laicismo da República: assente na separação da Igreja e do Estado, originou, por sua vez, um violento anticlericalismo.
- Participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial.
Dificuldades económicas e a instabilidade social
Em março de 1916, Portugal entrou na Guerra, integrando a causa dos Aliados. A sua participação acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento social.
- Falta de bens de consumo, racionamentos e especulação desesperam os Portugueses, em especial os estratos mais desfavorecidos.
- Com a produção industrial em queda, o défice da balança comercial cresceu.
- A diminuição das receitas orçamentais e o aumento das despesas conduziram os governos ao expediente então usual noutros Estados: o da multiplicação da massa monetária em circulação, que desvalorizou a moeda e originou uma inflação galopante. Esta inflação manteve-se para além da guerra.
- Do ponto de vista económico, as classes médias sentiam-se traídas pela República, de quem tinham sido o grande sustentáculo.
- Operariado: contornos violentos atingem as grandes cidades. As greves dinamizadas pelos anarcossindicalistas, que recorriam a atentados bombistas, tornaram-se frequentes.
O agravamento da instabilidade política
A Guerra trouxe consigo o agravamento da instabilidade política. Em 1915, ainda o país não havia entrado nela, já o general Pimenta de castro dissolvia o Parlamento e instalava a ditadura militar.
Pela via da ditadura enveredou, igualmente, o major Sidónio Pais, em dezembro de 1917:
- Dissolveu o Congresso.
- Fez-se eleger presidente por eleições diretas, em abril de 1918.
- Apoiou-se nas forças mais conservadoras da sociedade portuguesa, nomeadamente nos monárquicos.
- Dizia-se o fundador de uma “República Nova” – suscitou devoções fervorosas que não o impediram de tomar assassinado em dezembro de 1918.