Módulo 7 – Crises, Embates Ideológicos e Mutações Culturais na Primeira Metade do Século XX

Posted: May 18, 2014 in Uncategorized

1.1 Um novo equilíbrio global

Período: Fim da I Guerra Mundial (1914-1918). Situação: Europa destruída, perda da liderança a nível mundial para novos países, nomeadamente EUA e Japão.

Conferência de Paz de Paris, Janeiro de 1919 (Tratado de Versalhes)

França: Clemenceau; Grã-Bretanha (Irlanda, Escócia, Inglaterra, …):  Lloyd George; EUA: Wilson;

Os 14 pontos de Wilson (carta de intenções):

  1. Diplomacia
  2. Liberdade de navegação e trocas.
  3. Redução dos armamentos (Alemanha, Itália, … ou seja, os países que levaram!)
  4. Respeito com as nacionalidades (respeitar etnias/religiões diferentes).
  5. Criação de uma Liga de Nações (exemplo: Liga de Futebol) – SDN

Dos vários tratados assinados, criou-se:

  • Nova Geografia Política (surgem novos países, novas linhas de fronteira, com diferentes ideologias/pensamentos).
  • Nova Ordem Internacional (EUA, Japão)
  • Tratado de Versalhes.

1.1.1 Nova geografia política –Nacionalidades e Democracia

Os Tratados de paz conduziram a uma profunda transformação do mapa da Europa e do Médio Oriente.

As transformações:

  • Império Russo: revolução de outubro de 1917 (Revolução Bolchevista).
  • Impérios Alemão e Austro-Húngaro e Otomano: desmoronaram-se, surgem novos países.
  • Outros Estados ampliam as suas fronteiras.

As perdas para os vencidos:

  • Alemanha:
    • Perdeu:
      • Colónias;
      • Frota de guerra;
      • Parte da frota mercante;
      • Minas de carvão;
    • Tem de reparar financeiramente os prejuízos causados pela guerra.

Sociedade das Nações – SDN

A Sociedade das Nações tem como objetivos:

  1. Cooperação entre os povos.
  2. Promoção do desarmamento.
  3. Solução dos problemas entre países pela via pacífica/diálogo.

Os organismos são os seguintes (toma-os como referência. Dificilmente irá sair):

  1. Assembleia Geral.
  2. Secretariado: preparação dos trabalhos.
  3. Tribunal Internacional de Justiça (Atualmente é o Tribunal de Haia).
  4. Banco Internacional. Empréstimos, dinheiro – dar dinheiro à economia para não parar.
  5. Organização Internacional do Trabalho (OIT).
  6. Comissão Permanente dos Mandatos.

Porque motivos a Sociedade das Nações falhou então?

  1. Os povos vencidos não participaram nos Tratados. Basicamente ficaram apenas com a fatura para pagar (Está no Tratado de Versalhes).
  2. Exclusão de países fortes, como a Rússia Soviética e a Alemanha como Estados membros.
  3. Nem todos os países vencedores ficaram satisfeitos com as condições, como Itália e Portugal.
  4. EUA não retificaram o Tratado de Versalhes e deixaram de participar na Sociedade das Nações.
    1. Conclusão: apenas um grupo restrito de países vencedores fazem parte da Sociedade das Nações. Nem todos estão incluídos.

 

O declínio da Europa (página 20)

A Europa estava destruída:

  1. Dificuldades de reconversão das fábricas (muitas tinham sido usadas para fazer armas).
  2. Morte de muita população ativa (sobretudo os mais novos, foram “ceifados” pela guerra).
  3. Campos queimados/destruídos. Exemplo: preço do cereal dispara.
  4. Fábricas, minas e barcos ficaram destruídas.
  5. Finanças desorganizadas.
    1. Conclusão:
      1. A Europa continuou compradora de bens e serviços americanos
      2. Endividamento agravou-se. Problema dos juros: tens de pagar o que deves mais os juros.

Situações criadas perante este cenário:

  1. Emissão, em grandes quantidades, de moedas e notas para multiplicar meios de pagamento. Contudo, como não há aumento de produção, assiste-se a uma desvalorização monetária (devido à alta de preços).
  2. Fraqueza da moeda europeia.
  3. Inflação galopante: os preços aumentam vertiginosamente, fazendo como que fosse muito difícil adquirir certos bens e serviços. A moeda perde valor.

A ascensão dos EUA e a recuperação europeia

Os EUA ascendem a potência número 1 a nível mundial. A Europa, dominadora absoluta até 1914 (antes da I Guerra Mundial), perde o lugar. Eis alguns motivos:

  1. Fornecedores dos países em guerra e dos mercados mundiais (durante a guerra – só entram em 1917). Além do mais, a guerra não chegou a território dos EUA propriamente dito.
  2. Detêm uma elevada parcela do ouro mundial.
  3. Enorme capacidade de produção.
  4. Prosperidade da balança de pagamentos.
    1. São os EUA que mais dinheiro emprestam aos vários países na Europa. Como tal, a Europa fica dependente dos EUA.

No entanto, tenha-se em atenção que é a procura externa que determina as vendas, pelo que uma diminuição da mesma pode trazer uma crise, mesmo que breve, como aconteceu entre 1920-21. Nesta período desce a produção industrial, descem os preços e o desemprego aumenta.

Para aumentar a produção, tomaram-se algumas medidas:

  • Taylorismo:
    • método de racionalização do trabalho a fim de diminuir os custos de produção.
    • Trabalho em cadeia: cada operário executa uma operação específica no trabalho, o que diminui o tempo de execução da mesma.
    • Produção em massa: torna o bem acessível à maior parte das pessoas devido ao menor custo e melhoria do lucro final. “Podes escolher a cor do carro que quiseres, desde que seja preto” (Henry Ford)
  • Concentração capitalista de empresas.

Loucos Anos 20

Entre 1925 e 1929, o capitalismo atinge um dos seus picos nos EUA, com um clima de optimismo e confiança:

  • Indústrias:
    • Produção de petróleo.
    • Produção de eletricidade.
    • Indústria da siderurgia.
    • Indústria química.
  • Elevado índice consumista. Exemplo: eletrodomésticos e automóveis.

1.2 A implantação do marxismo-leninismo na Rússia: a construção do modelo soviético

1905 – 1ª Tentativa de tirar o czar do poder.

Outubro de 1917 – Rússia torna-se o primeiro Estado Socialista do mundo.

1917 – O ano das revoluções

Situação da Rússia de 1917:

  1. Governado autocraticamente pelo czar Nicolau II.
  2. Inúmeras tensões sociais e políticas.
  3. Camponeses (85% da população) clamam por terras, concentradas nas mãos dos grandes senhores e latifundiários.
  4. Operariado, escasso mas fortemente reivindicativo, exige maiores salários e melhores condições de vida e de trabalho.
  5. Burguesia e nobreza liberal: desejam abertura política e modernização do país.

A contestação política apresentava 3 grupos:

  1. Socialistas-revolucionários: reclamam a partilha de terras.
  2. Sociais-democratas: divididos em bolcheviques e mencheviques.
    1. Bolcheviques (maioritários): defendiam a luta de classes e a ditadura do proletariado.
    2. Mencheviques (minoritários)
  3. Constitucionais-democratas: parlamentaristas (estilo ocidental).

Da revolução de fevereiro à Revolução de outubro

Revolução de fevereiro

Acontecimentos:

  • Os sovietes – operários reúnem-se numa Assembleia Popular e surgem violentas manifestações.
  • Com o apoio dos militares, o czar é forçado a abdicar a 2 de Março. A Rússia torna-se uma República.

Figuras:

  • Lvov e depois Kerensky

Objetivos:

  • Instauração de uma democracia parlamentar.
  • Continuação da guerra com a Alemanha, que acreditava poder ganhar (I Guerra Mundial).

Revolução de outubro (regresso de Lenine à Rússia)

  • Sovietes (constituídos por operários, camponeses, soldados e marinheiros) são controlados pelos bolcheviques.
  • Apelam (“Teses de Abril“):
    • Retirada da Rússia da guerra.
    • Derrube do governo provisório (apelidado de burguês)
    • Entrega do poder aos sovietes.
    • Confiscação das grandes propriedades.

A Revolução (24 e 25 de Outubro)

  1. Guardas Vermelhos (Milícias bolcheviques) controlam pontos estratégicos da cidade. Assaltam o Palácio de Inverno e derrubam o Governo Provisório nele sediado.
  2. Formação do Conselho dos Comissários do Povo (instaurado no II Congresso dos Sovietes, em Petrogado), maioritariamente bolcheviques, com a seguinte composição dos principais cargos:
    1. Lenine ocupa a presidência.
    2. Trotsky a Pasta da Guerra.
    3. Estaline Pasta das Nacionalidades.

Como tal, os representantes do proletariado, e como Marx preconizara, conquistam o poder político, pela luta de classes e pela revolução.

1.2.2 Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático

A democracia dos sovietes; dificuldades e guerra civil (1918-1920)

O novo governo tomou uma série de medidas:

  1. Decretos:
    1. Decreto sobre a Paz: será assinado o Tratado de Brest-Litovsk com a Alemanha.
    2. Decreto sobre a terra: aboliu, sem indemnização, a grande propriedade, entregando-a a sovietes camponeses.
    3. Decreto sobre o controlo operário: atribuí aos operários das empresas a superintendência e a gestão da respetiva produção.
    4. Decreto sobre as Nacionalidades: confere, a todos os povos do antigo Império Russo, o estatuto de igualdade e o direito à autodeterminação.

Os problemas

  1. Proprietários e empresários criavam os maiores obstáculos à aplicação dos decretos relativos à terra e ao controlo operário.
  2. O regresso de 7 milhões de soldados, com os seguintes problemas:
    1. Sem hipótese imediata de reintegração na vida civil.
    2. Persistia da carestia (falta de bens de primeira necessidade)
    3. Inflação (subida/disparo dos preços).
  3. Consequência: as pessoas não aderem, assim tão facilmente, ao projeto ntebolchevique! (apenas obtiveram 25% dos votos)

 

Guerra Civil (1918-1920)

Luta entre bolcheviques (exército vermelho) e mencheviques (exército branco).

Brancos: apoio da França, EUA, Japão. Desejosos de evitar a expansão do bolchevismo.

Exército vermelho sai vencedor, pois é mais disciplinado e coeso. Organizados por Trotsky.

O Comunismo de guerra, proletariado (1918-1921)

Ditadura do proletariado:

  • Servindo-se da “supremacia política”, o proletariado retiraria “todo o capital à burguesia”.
  • Centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, entendido como representante legítimo e exclusivo do proletariado. Karl Marx chama a isto de “Comunismo” – “a forma mais alta de organização da sociedade”.

Com a guerra civil, Lenine percebeu que o comunismo, com o Estado a representar o proletariado, só iria se manter com uma mão forte do poder, mesmo que à força. Chamamos a isto de Comunismo de Guerra, com um caráter violento e implacável:

  1. Democracia dos Sovietes (Conselhos de operários, marinheiros, … – II Congresso dos Sovietes) chega ao fim com o abandono dos decretos revolucionários que concediam a terra aos camponeses e o controlo das fábricas aos operários.
  2. Toda a economia foi nacionalizada, deixa de haver privados e controlo privado (muito do lucro ficava no privado) e passa para as mãos do Estado.
    1. Obrigaram-se os camponeses a entregar as colheitas.
    2. Bancos, comércio interno e externo, frota mercantil são nacionalizadas (empresas com mais de 5 operários)
  3. Distribuição de bens passa a pertencer ao Estado, de acordo com os novos critérios de Justiça Social.

Além disso, o bolchevismo:

  1. Instaurou o trabalho obrigatório dos 16 aos 50 anos.
  2. Prolongou o tempo de trabalho (número de horas).
  3. Reprimiu a indisciplina.
  4. Atribui o salário de acordo com o rendimento.
  5. Promoção cultural: combate ao analfabetismo; nacionalizaram-se museus, obras artísticas, etc, declarados património do Estado e do Povo.

Ditadura do Proletariado/Partido Comunista

  1. Dissolve a Assembleia Constituinte (1918).
  2. Todos os partidos foram proibidos, com exceção do comunista (1922).
  3. Período de Terror (Tcheca – Policia Política):
    1. Elevados poderes.
    2. Não há justiça organizada.
    3. Prendia os suspeitos e julgava-os rapidamente… com execuções sumárias.

O centralismo democrático

Como é que eles centralizaram o poder?

  1. URSS: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (1922)
    1. Estado multinacional (muitos países) e federal (cada um deles obedece à Rússia).
    2. Igualdade de Direitos.
    3. Dispunham de uma Constituição (cada país) e uma “certa” autonomia (tipo Madeira e Açores).
  2. Centralismo democrático:
    1. Estado forte, disciplinado e democrático.
  3. Sovietes:
    1. Os sovietes são escolhidos por sufrágio universal.
    2. Âmbito local e regional.
    3. Representam o conjunto das repúblicas federadas e diferentes nacionalidades.
    4. Os sovietes são meros instrumentos de transmissão entre o governo, os partidos e o povo.
  4. O Congresso dos Sovietes reúne-se apenas uma vez por ano.
    1. Designa as pessoas para o Comité Executivo Central:
      1. Parlamento dotado de duas câmaras: Conselho de União e o Conselho das Nacionalidades.
      2. Orgãos do poder executivo: o Presidium; o Conselho dos Comissários do Povo (espécie de conselho de ministros, a quem pertence o poder real)

Por isso, ao contrário do Ocidente, onde o Estado é neutro e se distancia dos Partidos, na Rússia comunista o Estado identifica-se com a organização partidária (Partido Comunista), que dele se apropria. Por outras palavras, o Partido faz o que o Governo manda.

O Estado forte e democrático da URSS era, por conseguinte, impensável no quadro do pluralismo partidário, à maneira ocidental (onde existem imensos partidos políticos), em que os diferentes grupos de opinião e ideologias têm direito a representação política.

Cronologia:

1905 – Massacre no Palácio de Inverno, onde o povo se manifestou.

1914-1918 – I Guerra Mundial.

1917 – Revolução de Fevereiro. Queda do Czar e subida ao poder provisório de Kerensky. Rússia não sai da Guerra! (erro fatal!)

1917 – Revolução de Outubro. Karl Marx é o que teoriza as ideias Comunistas (Luta de classes e socialismo); Lenine assume o poder (marxismo). Força do Proletariado (industrias, povo, militares) e dos Sovietes (congressos locais).

1918-1920 – Guerra Civil entre bolcheviques (vermelhos – maioritários) e mencheviques (brancos – minoritários – querem o sistema político tipo ocidente). Vitória para os bolcheviques.

1918-1921 – Comunismo de Guerra e ditadura do Proletariado. Lenine apercebe-se que é necessário um estado forte para controlar. Por isso, as ideias dos congressos, dos militares, dos camponeses, etc, vão ficar ligadas, através do Partido Comunista, ao Governo.

– Centralismo democrático. Centralizar o poder. Não há pluripartidarismo (vários partidos), há só um e todas as instituições/pessoas seguem a ideologia do Partido Comunista que está ligado ao Governo.

 

Nova Política Económica (1921-1927)

Os russos pagaram um preço bem alto pela Guerra Civil (1918-1920).

Como é que estava a URSS?

  1. Produção de cereais desceu para metade (preço aumenta).
  2. Obrigado à requisição de géneros (armazém comunitário). Muitos camponeses não gostam de dar a produção e destroem a mesma.
  3. 1920/1921 – 3 milhões de mortos à fome (Inverno rigoroso).
  4. Produção industrial desce 3 / 4 em relação a 1913.
  5. Minas de hulha (carvão) paralisados.
  6. Caminhos de ferro paralisados.

Lenine foi alertado que o socialismo iria “à ruína” se não desenvolve-se a indústria na versão capitalista.

As medidas do NEP:

  1. Recuperação agrícola:
    1. Requisições obrigatórias foram substituídas por um imposto em géneros (em alimentos, não em dinheiro).
    2. Coletivização agrária (armazém comunitária) foi interrompida.
    3. Camponeses são estimulados a aumentar a produção (terrenos incultos, ou seja, terrenos que não eram cultivados – 25% para 2,6%) (produção de trigo duplicou).
  2. Indústria:
    1. Desnacionalizaram-se as empresas com menos de 20 operários, ou seja, vão ficar privadas novamente.
    2. Fomentou-se o investimento estrangeiro (Capitais mistos) – técnicos, máquinas e matérias-primas.
    3. Fim do trabalho obrigatório.
    4. Atribuição de prémios.
  3. Primeiras centrais hidroelétricas (menos dependência do carvão).
  4. Produção de Hulha, petróleo e aço aumenta significativamente.
    1. Camponeses (kulaks)
    2. Comerciantes (nepmen).

A regressão do demoliberalismo

O impacto do socialismo revolucionário; dificuldades económicas e radicalização dos movimentos sociais; emergência dos autoritarismos

O Komintern e o impacto do socialismo revolucionário

O estímulo fornecido pela Rússia Soviética à causa do socialismo revolucionário sentiu-se mais fortemente após a fundação, em Moscovo (Março de 1919), da III Internacional, também chamada de Internacional Comunista ou Komintern.

O Komintern propunha-se:

  • Coordenar a luta dos partidos operários a nível mundial, para que o marxismo-leninismo triunfasse.
    • Se outros países aplicassem a ditadura do proletariado, cessariam os respetivos boicotes e oposições à Rússia Soviética (mencheviques foram oposição contra bolcheviques – guerra civil – e eram apoiados pelos países europeus).
    • Segundo Lenine e Trotski (mentores do Komintern): revolução socialista europeia deveria ser conduzida por partidos comunistas decalcados do modelo russo e fiéis ao marxismo-leninismo.

Radicalização social e política

Alemanha:

  • Tumultos revolucionários remontam à capitulação perante os Aliados (novembro de 1918).
    • Constituiram-se conselhos de operários, soldados e marinheiros, inspirados nos sovietes russos e, em Berlim, os espartaquistas – fação radical do Partido Social-Democrata alemão – pegam em armas e proclamam uma “república socialista” – serão executados pelo governo. O proletariado alemão passou a hostilizar a República de Weimar, assim chamada por ter sido na cidade de Weimar que a Assembleia Constituinte elaborou e aprovou, entre fevereiro e agosto de 1919, a Constituição da República Alemã.

Hungria:

  • Durou de março a agosto de 1919. Fracassou.

Itália:

  • verão de 1919, camponeses ocupam terras incultas. Milicias afastam os ocupantes.
  • 1920: greve dos metalúrgicos de Turim, desencadeou uma vaga de ocupação de fábricas. Falta de créditos e bancários e acordo entre Governo e outros, marca o fim da greve.

Grã-Bretanha, França, Portugal

  • Greves e tumultos.

Emergência de autoritarismos

Medo da revolução bolchevique na Europa:

  1. a grande burguesia proprietária e financeira, a quem jamais poderia agradar o controlo operário e camponês da produção.
  2. Classes médias de funcionários e pequenos-burgueses.
    1. Inflação consumia o poder de compra e quase as reduzia ao nível dos proletários.
    2. Regalias sociais concedidas aos “insurretos” pelos governos democráticos que elas haviam ajudado a eleger.
  3. Coro de protesto que atribuíam à democracia liberal, e nomeadamente ao parlamentarismo, a instabilidade política e a incapacidade de resolução da crise económica e social. Acabam a defender um governo forte como garantia da paz social, da riqueza e da dignidade.
  4. Marcha de Mussolini, Ditadura Militar do general Miguel Primo de Rivera (apoio do rei Afonso XIII) – suspendeu a Constituição, dissolveu as Cortes e suprimiu os partidos políticos.

A emergência dos autoritarismos confirma, de facto, a regressão do demoliberalismo.

1.4. Mutações nos comportamentos e na cultura

1.4.1 As transformações da vida urbana

Século XX foi o século das grandes cidades

  • Pela primeira vez na história, no mundo industrializado, a população urbana superou a das zonas rurais.

A nova sociabilidade

  1. O indivíduo perde-se no meio da multidão.
  2. Lazeres tendem para a massificação:
    1. cafés, esplanadas, cinemas, salões, espectáculos desportivos.
  3. Convivência entre os sexos torna-se mais livre e ousada.
  4. Fomento da prática desportiva. Ritmo de vida, outrora lento e pacato, acelera-se e, nos anos 20, torna-se quase frenético.
  5. Rutura com os valores e convenções da rígida moral oitocentista.

A crise dos valores tradicionais

  • A brutalidade da Primeira Guerra Mundial pôs em causa as instituições, os valores espirituais e morais, todo o edifício social que tinha sustentado a ordem burguesa do século XIX.
  • O impacto da destruição gerou um sentimento de descrença e pessimismo.
  • Vaga de contestação a todos os níveis abalou a sociedade.
  • Clima de anomia: ausência de normas morais e sociais que, com clareza, distinguissem o certo e o errado.

A emancipação feminina

  1. Remonta ao século XIX.
    1. por volta de 1850, as reivindicações centravam-se no direito das mulheres casadas à propriedade dos seus bens, à tutela dos filhos, ao aceso à educação e a um trabalho socialmente valorizado.
  2. Por volta de 1900:
    1. Direito de participação na vida política (direito ao voto).
  3. Feministas famosas: Emmeline Pankhurst.

As convulsões da guerra vieram alterar este estado de espírito, com os homens nas trincheiras:

  • mulheres viram-se libertas das suas tradicionais limitações como donas de casa, assumindo a autoridade do lar e o sustento da casa: fábricas, carros, materiais pesados, …
  • No campo realizavam o trabalho masculino e mesmo na frente de batalha tornam-se imprescindíveis, assegurando os cuidados de enfermagem, com risco da própria vida.

Este esforço reforçou a autoconfiança feminina e granjeou-lhe a valorização social que até aí lhe faltava.

1.4.2 A descrença no pensamento positivista e as novas conceções científicas

Por meados do século XX, o positivismo estabelecera uma confiança absoluta no poder do raciocínio e da ciência:

  1. Filosofia (Henri Bergson): defende haver realidades que escapam às leis da Física e da Matemática e só podem ser compreendidas através de uma só via, a que chama intuição. O pensamento filosófico revaloriza o transcendente e, com ele, a imagem de Deus.
  2. Relativismo:
    1. Microfísica: o atómo não era a unidade mais pequena da Natureza. Abre à física este novo campo de estudos, com destaque para o alemão Max Planck.
      1. as trocas de energia não se fazem num fluxo suave e uniforme mas em pequeníssimas unidades separadas (a que chamou quantum – porção) que se movimentam a velocidades inimagináveis, em saltos bruscos e descontínuos.
    2. Teoria da Relatividade: Einstein destruiu as mais sólidas bases da Física ao negar o carácter absoluto do espaço e do tempo. Ninguém poderia imaginar que o tempo fosse uma variável e decorresse mais depressa ou devagar consoante a velocidade dos corpos.
      1. Relativismo aceita a subjetividade do conhecimento, o mistério e a desordem, como partes integrantes do Universo.
  3. As conceções psicanalíticas
    1. Psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939): através do estado hipnótico, os pacientes recordavam-se de pensamentos, factos e desejos que aparentemente haviam esquecido – o inconsciente.
    2. O psiquismo humano estrutura-se em três níveis distintos: o consciente, o subconsciente e o inconsciente. Assim, a psicanálise trata destes elementos, terapêutica e inclusive de análise dos sonhos.

As vanguardas: ruturas com os cânones das artes e da literatura

  1. Cubismo
    1. Data: 1907
    2. Autores: Pablo Picasso
    3. Caraterísticas:
      1. As Meninas de Avinhão:
        1. Quadro desconcertante representado 5 mulheres nuas (bordel).
        2. Distorcidas e fragmentadas, preenchiam praticamente todo o espaço do quadro.
        3. Fortemente influenciados pelo geometrismo de Cézanne.
        4. Estilização volumétrica da arte africana.

 

  • Cubismo Analítico
    1. Braque e Picasso geometrizaram e simplificaram formas (seguindo a lógica de Cézanne, que representou a Natureza através do cilindro, do cone e da esfera), num tratamento lógico e construtivo de volumes.
    2. A verdadeira novidade do cubismo não estava na geometrização dos volumes mas na destruição completa das leis da perspetiva. Estilhaçando o volume em vários planos que se justapõem. Por outras palavras: o pintor convencional pinta o que vê, os cubistas pintam aquilo que sabem que existe mas só poderiam ver em momentos sucessivos.
    3. As cores vão ser restringidas a uma paleta quase monocromática de azuis, cinzentos e castanhos, de forma a não perturbar o rigor geométrico da representação.
  • Cubismo sintético. Os novos materiais
    • Pelo fim de 1911, Braque e Picasso tinham levado o cubismo ao seu ponto extremo: o objeto fora totalmente desmantelado numa miríade de facetas e tornara-se, para o observador, irreconhecível! Como tal, é necessário um processo de reconstrução/recriação, até tendo em conta que os cubistas não querem praticar uma pintura abstrata.
    • A cor regressa às telas e começam a utilizar novos materiais, que até então eram estranhos: papéis, cartão, tecidos, madeira, corda… Este novo material:
      • Cria, com o relevo, novos planos no quadro.
      • Enriquece as tonalidades do colorido confinadas, até então, ao uso da tinta.
      • Acentua a essência e a verdade das representações (objetivo que o cubismo perseguia desde o início).

O cubismo irá também proporcionar meios de expressão a outras correntes.

 

  1. Expressionismo (1905)
    1. Alemanha: nasce em diversas cidades alemãs.
    2. Autores: Grupo revolucionário artístico Die Brucke (A ponte), Kirchner; Vassily Kandinsky e Franz Marc; Paul Klee.
    3. Caraterísticas:
      1. Foi uma tentativa de abalar o conservadorismo da arte oficial (Kaiser Guilherme II dava o exemplo do conservadorismo).
      2. Grito de revolta individual contra uma sociedade excessivamente moralista e hierarquizada, onde as inquietações da alma raramente se podia expressar, abafadas por normas e preconceitos.
      3. Arte impulsiva, fortemente individual, que representasse “diretamente e sem falsificações”.
      4. Desprezavam a técnica, pois, na sua opinião, o verdadeiro fim da obra de arte não se pode ensinar.
      5. Formas primitivas e simples.
      6. Utilizam grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas livremente.
        1. Temas:
          1. Temática pesada, com temas como angústia, desespero, morte, sexo e miséria social.
          2. Mostra as inquietações do pintor.
          3. Sociedade: Intenção de castigar o conservadorismo (seguem regras muito restritas, não há lugar para novos destaques) e a moral burguesa, pelo choque que provocavam.
  2. Fauvismo (“As feras” – designação dada por um jornalista)
    1. Salon D´Automn (1905) – primeira exposição fauvista.
    2. Autores: Henri Matisse, André Derain, Vlaminck.
    3. Caraterísticas:
      1. Colorismo muito intenso (cores fortes), de forma aparentemente arbitrária (à sorte).
      2. Parecem obras estranhas, quase selvagens.
      3. Primado da cor sob a forma: o colorido autonomiza-se completamente do real, isto é, não tem de concordar com as cores do objeto representado mas refletir a sua essência (aos olhos do pintor).
      4. Uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas perturbadores ou deprimentes – algo como uma boa poltrona onde repousar a fadiga física”.
  3. Abstracionismo
    1. Autores: Kandinsky, Piet Mondrian
    2. Caraterísticas:
      1. Libertou-se do pormenor representativo.
      2. Passou a fazer maior apelo às emoções e à conceptualização de formas.
      3. Cores fortes e vibrantes.
      4. Objetos não são necessários à pintura, como até a prejudicavam.
      5. Kandinsky: A forma abstrata, porque se dirige à perceção sensorial (5 sentidos) comum à espécie humana é, tal como a música, uma linguagem universal. Por outras palavras, as abstrações de forma e de cor, tal como a música, atuam diretamente na alma.
      6. Obriga à correta combinação de formas e cores. Tal como notas de música, as formas e as cores da pintura não podem ser agrupadas ao acData: 

Abstracionismo sensível ou lírico

  1. As formas e as cores, ao reproduzirem imagens figurativas, perdem muita da força expressiva que, por si mesmas, possuem, pois somos incapazes de as dissociar do significado do objeto.
  2. A forma abstrata, porque se dirige à perceção sensorial comum à espécie humana é, tal como a música, uma linguagem universal. Por outras palavras, as abstrações de forma e de cor, tal como a música, atuam diretamente na alma.
  3. Tal como as notas de música, as formas e as cores da pintura não podem ser agrupadas ao acaso…

Abstracionismo geométrico

  1. Autor em destaque: Piet Mondrian
    1. Procurou fazer da pintura um meio de expressar a verdade essencial e inalterável das coisas.
    2. Fundou a revista De Stijl (O Estilo), com o propósito de divulgar um novo conceito de arte a que chamou nova realidade (conhecida como neoplasticismo).
    3. Impressionado com a violência e o sofrimento de um mundo em guerra, Mondrian procurou, para o seu trabalho, uma função social além de uma nova dimensão estética. “A tragédia da vida” é o resultado do profundo individualismo que marca todas as realizações humanas, das políticas às culturais. Por isso, não deve ser objetivo do artista expressar o seu intímo e afirmar a sua originalidade, mas sim procurar as verdades universais, os valores últimos, essenciais e permanentes da vida e da realidade.
    4. Na obra de arte, implica a supressão e toda a emotividade pessoa e também de tudo o que é efémero ou acessório. Organizadas de forma rigorosa, estas formas exprimiriam a “realidade pura” que Mondrian tanto procurava.

 

  1. Dadaísmo (Dadã – bébé)
    1. Data: 1916 – 1922, Suiça. I Guerra Mundial (1914-1918)
    2. Autores: Duchamp (Sanita)
      1. Caraterísticas:
        1. Arte e Desordem, a nível internacional. Contra o mundo violento sacudido pela guerra, pela sociedade e pelas suas regras e pela própria arte.
        2. Unidos pela fome do absurdo, tentavam criar uma antiarte, negar o seu valor.
        3. Enorme movimento de subversão intelectual e artísticas das primeiras décadas do século.
  2. Futurismo
    1. Data: 1909, Europa (França, Itália, …)
    2. Autores:
      1. Caraterísticas:
        1. Rejeita o passado e glorifica o futuro.
        2. A máquina conquista o mundo moderno, assume lugar central.
        3. Ideia de velocidade.
        4. Fizeram vários Manifestos e várias exposições, cartazes, panfletos, revistas, conferências, soirées futuristas.
        5. Os futuristas aproximam-se dos cubistas e, com eles, partilham a decomposição fragmentada.
  3. Surrealismo
    1. Data: 1922
    2. Autores: Miró, Salvador Dali, René Magritte, Max Ernst.
    3. Características
      1. O culto ao absurdo tornara-se cada vez mais extremo e esgotava-se em repetições sucessivas, cujo impacto era cada vez menor.
      2. Manifesto do Surrealismo: Mistérios do inconsciente.
      3. Sob a influência de Freud e da psicanálise, a arte deve deslocar-se da realidade para o mundo da interioridade, procurado na mente do artista.
      4. Não pretende a intervenção do pensamento racional. Como tal, não segue regras formais.
      5. Teve bastante adesão internacional.

 

Os caminhos da literatura

No mundo das letras, a vastidão de temas e estilos assemelha-se ou ultrapassa até a complexidade do mundo das artes.

  • Primeiras décadas de 1900:
    • Libertação da obra literária face à realidade concreta.Foi abandonada a descrição ordenada e realista da sociedade e dos acontecimentos.
    • As obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens, mais do que para a narrativa de uma ação. Exemplo: Marcel Proust.
    • André Gide:
      • Proclama a liberdade total do ser humano, o seu direito de tudo ousar, assim rejeitando as regras da moral, da família e da sociedade.
    • Novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica: Apolinaire (fundo a palavra e a forma), dadaístas, como Hugo Ball, que transformam o nonsense em poesia.

Estas obras, embora pouco produtivas, romperam convenções e abriram portas a obras de grande valor, verdadeiramente inovadoras. Exemplo: Ulisses.

 

Portugal no primeiro pós-guerra

As dificuldades económicas e a instabilidade política e social: a falência da 1ª República.

A 1ª república portuguesa (1910-1926) esteve longe de proporcionar a acalmia de que o país tanto necessitava.

  1. O parlamentarismo contribuiu para uma crónica instabilidade governativa (16 anos, 45 governos, 8 Presidentes da República).
  2. Laicismo da República: assente na separação da Igreja e do Estado, originou, por sua vez, um violento anticlericalismo.
  3. Participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial.

 

Dificuldades económicas e a instabilidade social

Em março de 1916, Portugal entrou na Guerra, integrando a causa dos Aliados. A sua participação acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento social.

  1. Falta de bens de consumo, racionamentos e especulação desesperam os Portugueses, em especial os estratos mais desfavorecidos.
  2. Com a produção industrial em queda, o défice da balança comercial cresceu.
  3. A diminuição das receitas orçamentais e o aumento das despesas conduziram os governos ao expediente então usual noutros Estados: o da multiplicação da massa monetária em circulação, que desvalorizou a moeda e originou uma inflação galopante. Esta inflação manteve-se para além da guerra.
  4. Do ponto de vista económico, as classes médias sentiam-se traídas pela República, de quem tinham sido o grande sustentáculo.
  5. Operariado: contornos violentos atingem as grandes cidades. As greves dinamizadas pelos anarcossindicalistas, que recorriam a atentados bombistas, tornaram-se frequentes.

O agravamento da instabilidade política

A Guerra trouxe consigo o agravamento da instabilidade política. Em 1915, ainda o país não havia entrado nela, já o general Pimenta de castro dissolvia o Parlamento e instalava a ditadura militar.

Pela via da ditadura enveredou, igualmente, o major Sidónio Pais, em dezembro de 1917:

  1. Dissolveu o Congresso.
  2. Fez-se eleger presidente por eleições diretas, em abril de 1918.
  3. Apoiou-se nas forças mais conservadoras da sociedade portuguesa, nomeadamente nos monárquicos.
  4. Dizia-se o fundador de uma “República Nova” – suscitou devoções fervorosas que não o impediram de tomar assassinado em dezembro de 1918.

 

 

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