6.1 O Antigo regime europeu: regra e exceção.
O Antigo Regime (Página 85)
O Antigo Regime:
- Período histórico, entre os séculos XVI e XVIII. Esta designação foi atribuída após as revoluções liberais de finais do século XVIII para designar o período anterior.
Este período ficou marcado por:
- Absolutismo na política.
- Divisão da sociedade em 3 ordens.
- Mercantilismo na economia.
- Cultura e mentalidade barrocas, na arte.
O absolutismo Régio
Entre os séculos XVI e XVIII vigorou, na maior parte dos países da Europa, um regime político que ficou conhecido por absolutismo:
- Absolutismo:
- O rei concentra em si todos os poderes e funções do Estado.
- Controlava a política, a justiça, a administração e a economia.
- Todos os grupos sociais estavam subjugados ao poder do rei.
Este poder imenso teve início a partir do século XII, quando os reis procuraram recuperar alguns poderes que estavam nas mãos dos grupos sociais privilegiados: nobreza e clero.
Progressivamente, as comunidades passaram a valorizar o rei como:
- Organizador da defesa nacional.
- Juiz
- Defensor do povo contra os abusos dos senhores.
- Impulsionador do progresso e bem-estar da nação.
- Pai Protetor.
Esta ideia de Pai protetor tem como base:
- Crença de que o rei recebia o seu poder diretamente de Deus (por nascer como herdeiro do trono).
- Direito divino dos reis, ou seja, o rei era visto como representante de Deus na Terra, governava em Seu nome e apenas a Ele tinha de prestar contas das suas decisões e dos seus atos.
- Todos os súbditos deviam, ao Rei, respeito e total obediência.
O representante máximo do absolutismo régio foi:
- França – Rei Luís XIV, Rei-Sol: “O Estado sou eu”.
- Portugal – D. Pedro II e D. João V.
Os instrumentos do poder absoluto (Página 87)
Ao longo dos séculos XII a XVIII, os monarcas foram pondo em prática uma série de medidas para reforçarem o seu poder:
- Criação de um conjunto de órgãos políticos, com caráter consultivo, dos quais faziam parte conselheiros nomeados pelo rei.
- Nomeação de funcionários régios disciplinados, que assumiram funções que antes pertenciam ao clero e à nobreza – forte máquina burocrática.
- Organização de um exército profissional, retirando protagonismo aos cavaleiros nobres.
- Submissão da Igreja ao poder régio, podendo o rei nomear bispos e outras entidades eclesiásticas.
- Controlo das atividades económicas, protegendo e incentivando os que mais contribuíam para a riqueza nacional.
Assim, para os monarcas absolutistas, desenvolveram-se instrumentos de poder, nomeadamente:
- Conselho do Rei.
- Funcionários Régios.
- Exército.
- Corte Régia.
As Cortes:
- Melhor forma de afirmação do poder real.
- Corte faustosa, onde decorriam grandes eventos sociais, artísticos e culturais.
- Impunha uma imagem de força e superioridade aos súbditos.
Melhor exemplo de Corte em toda a Europa:
- França – Palácio de Versalhes, Luís XIV, 1682. Chegou a albergar 100.000 pessoas!
- Portugal – D. João V: mandou construir o Palácio-Convento de Mafra e patrocinou grandiosos espetáculos públicos no seu Paço Real.
A sociedade de ordens (Página 89)
A sociedade europeia do Antigo Regime estava organizada numa hierarquia de três ordens ou estados sociais, cujas ordens remontam à Idade Média:
- Ordens privilegiadas: Clero e Nobreza.
- Ordens não privilegiadas: Burguesia e Povo (Terceiro Estado)
A hierarquia é definida por:
- Posição social da família onde se nascia.
- Desempenho de determinados cargos políticos e administrativos.
Os privilegiados
- Clero:
- Ocupa-se do culto, do ensino e da assistência.
- Não pagam impostos ao rei.
- Possuem vastas propriedades e recursos.
- Chegam a receber pensões.
- Nobreza:
- Funções militares.
- Cargos na política e na administração.
- Possuem a maior parte das propriedades.
- Povo trabalhava nas suas terras e pagavam rendas e outros direitos.
- Não pagavam impostos ao rei.
- Chegam a receber pensões.
O Terceiro Estado
- Terceiro Estado:
- Não possuíam quaisquer privilégios mas era quem produzia riqueza.
- Burguesia era um grupo social novo, pois fortaleceu-se com o desenvolvimento do comércio colonial. Apesar disto, dificilmente subiam socialmente.
A mobilidade social era muito fraca. Ascender socialmente era difícil, mas a compra de títulos ou a recompensa por serviços prestados ao rei podiam abrir caminho à ascensão na sociedade.
O peso da agricultura (Página 91)
A principal atividade económica da população dos países europeus, no século XVII, era a agricultura. Contudo, esta apresentava baixos níveis de produtividade:
- Técnicas e instrumentos agrícolas eram arcaicos (força humana e animal; instrumentos de madeira e de ferro).
- Exploração senhorial das terras continuava a obrigar os camponeses a pagarem pesadas rendas.
A mercantilização da economia
Ao longo dos séculos XVI e XVII, o comércio internacional desenvolveu-se, tornando-se uma atividade bastante lucrativa.
Este comércio colonial precisava de produtos (tecidos, ferramentas, calçado e outros) para trocar pelas riquezas ultramarinas. Para produzir esses bens, desenvolveram-se manufaturas:
- Manufatura: modo de produção em que o fabrico é sobretudo manual.
Assim, as cidades enriqueceram, cresceram e “arrastaram” também os campos.
Tudo isto conduziu a uma mercantilização da economia, ou seja, ao mercantilismo:
- Mercantilismo: doutrina económica que vigorou em alguns países da Europa nos séculos XVII e XVIII. Defende o aumento da produção e das exportações e a redução das importações, com vista ao aumento da quantidade de metais preciosos do Estado.
- Muito visível em países como a França, a Holanda e a Inglaterra.
Entre os séculos XVI e XVIII, temos um novo sistema económico – o mercantilismo – criado por Colbert, ministro do rei francês Luís XIV.
Segundo o mercantilismo:
- A principal riqueza de um Estado reside na maior quantidade de metais preciosos que consegue acumular, tendo uma balança comercial (relação entre as importações e as exportações de um país) favorável ou positiva.
Para isso era preciso:
- Desenvolver a indústria manufatureira, para reduzir as importações.
- Fomentar o comércio internacional, as exportações.
- Proteger os produtos nacionais, aumentando as taxas alfandegárias sobre as importações e diminuindo-as nas exportações (protecionismo económico)
- Protecionismo económico: Medidas económicas (fiscais, alfandegárias e outras) de um Estado para aumentar as exportações e diminuir ou proibir as importações. Essas medidas protegem os produtos nacionais face à concorrência dos produtos estrangeiros.
Para os mercantilistas, a intervenção do Estado na economia torna-se indispensável para defender a produção nacional.
Competição económica e política (Página 93)
Desde o século XV que se considerava o comércio como o motor da economia e da riqueza dos Estados.
Foi num contexto de forte rivalidade económica e política que o mercantilismo ganhou cada vez mais força. As economias nacionais procuravam proteger-se face à concorrência internacional. O principal inimigo a abater eram os Holandeses, que se tinham tornado nos “transportadores do mundo” e inundavam os mercados com todo o tipo de produtos de boa qualidade e a bom preço.
Holanda, uma exceção ao mercantilismo
Enquanto a maior parte dos países da Europa adotou medidas protecionistas para conseguir acumular riqueza, a Holanda constituiu uma exceção:
- Regime parlamentar assente na liberdade de pensamento e de expressão.
- Sociedade marcadamente burguesa, ativa e empreendedora.
- Liberdade de iniciativa, quer ao nível das produções nacionais (criação de gado, agricultura, pescas, manufaturas têxteis, construção naval), quer ao nível do comércio, suportado pelo dinamismo da banca e outras instituições financeiras.
A prosperidade holandesa baseou-se na liberdade de iniciativa e Amesterdão tornou-se no centro económico do mundo:
- Controlou os pontos mais importantes do comércio europeu.
- Controlou feitorias.
- Controlou tráficos ultramarinos.
A arte e a mentalidade barrocas (Página 95)
Nos séculos XVII e XVIII temos uma nova corrente artística – Barroco.
- Barroco: Estilo artístico que nasceu em Roma, nos finais do século XVI, no contexto da Contrarreforma. Espalhou-se pela Europa e pela América latina nos séculos seguintes. Carateriza-se pelo movimento, exagero decorativo e extravagância.
A arte barroca foi usada pela Igreja Católica para combater o protestantismo, cativando os crentes:
- Riqueza dos materiais usados.
- Dramatismo das esculturas e pinturas.
- Envolvência da música.
- Este modelo também foi usado pelos grupos sociais mais abastados, em termos de modos de vida.
A arquitetura barroca
A arquitetura barroca manteve algumas estruturas renascentistas, mas substituiu a sobriedade e o equilíbrio (Renascimento) por outras caraterísticas, tais como:
- Grandiosidade e riqueza na decoração: havia horror ao vazio, preenchendo-se os espaços com esculturas, pinturas, talha dourada e, em Portugal, azulejo.
- Impressão de movimento: através de fachadas onduladas, curvas e contracurvas e plantas ovais e em elipse.
O ouro descoberto do Brasil, no século XVIII, financiou a construção e renovação de muitos edifícios em Portugal:
- Arquitetos:
- Nicolau Nasoni:
- Torre dos Clérigos – Porto;
- Palácio do Freixo – Porto;
- Nicolau Nasoni:
- Solar de Mateus – Vila Real;
- Ludovice:
- Palácio-Convento de Mafra.
- Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra.
- Aqueduto das Águas Livres.
A escultura e a pintura barrocas
A escultura e a pintura barrocas destacam-se por transmitirem:
- Escultura: Grande emoção e dramatismo através da exuberância das formas e dos volumes, pelas expressões teatrais e pelo movimento
- Pintura: Preferiam-se as cores fortes e contrastantes e utilizavam-se as ilusões de ótica (Ver livro).
Na escultura, destacaram-se:
- Itália: Bernini.
- Portugal: António Ferreira e Machado de Castro.
Na pintura, destacaram-se:
- Velásquez.
A revolução científica dos séculos XVII e XVIII
O método experimental
Desde o Renascimento, a Europa assistia a importantes progressos na ciência, devido a:
- Espírito crítico do Humanismo.
Esta verdadeira revolução científica baseou-se numa só nova forma de pensar, segundo o qual:
- Método científico ou experimental: Os conhecimentos só eram considerados corretos depois de serem confirmados pela razão e pela experiência.
Assim, o método científico ou experimental traduzia-se em 3 fases:
- Observação de fenómenos naturais.
- Formulação de hipóteses de explicação desses fenómenos.
- Realização de experiências e utilização da razão para conseguir enunciar uma lei geral.
Descartes, filósofo e matemático francês, foi determinante pois concebeu a dúvida metódica:
- Dúvida metódica: colocava tudo em dúvida para chegar a verdades absolutas, que não pudessem ser questionadas.
Descartes percebeu que a única verdade totalmente livre de dúvida era a que ele pensava. Deduziu uma das mais importantes frases da história e que lança a ciência moderna:
“Penso, logo existo” (Descartes)
A divulgação do saber
Os progressos científicos e técnicos foram divulgados em jornais e livros. Mas os cientistas, artistas e escritores criaram outra forma de divulgação:
- Academias: sociedades científicas onde se partilhavam ideias, conhecimentos e experiências.
- Temos também:
- Salões da realeza e de senhores nobres e burgueses.
Estes locais tornaram-se focos de cultura e de progresso.
A República das Províncias Unidas da Holanda (Página 99)
Terra de liberdades em pleno Antigo Regime, as Províncias Unidas conquistaram a sua independência, face ao domínio espanhol de Filipe II, em 1581 (3ª Dinastia em Portugal, a dos Filipes). Assim, em vez de um rei com amplos poderes hereditários, os Holandeses organizaram-se numa federação de províncias, cuja forma de governo era uma República:
- As populações elegiam livremente os elementos que compunham as assembleias municipais e provinciais.
- As assembleias municipais e provinciais nomeiam os elementos do Governo central.
- O Governo central trata dos assuntos comuns às provinciais, da paz e da guerra.
O parlamentarismo inglês
Desde o século XIII, que os reis ingleses eram obrigados a consultar o Parlamento sempre que quisessem fazer novas leis.
Nos séculos XVI e XVII, alguns monarcas, como Henrique VIII e Isabel I assemelharam-se a monarcas absolutos. Contudo, os adeptos do Parlamento nunca deixaram de lutar contra a supremacia deste órgão político. Chegou mesmo a travar-se uma guerra civil entre os defensores do rei e os defensores do parlamentarismo. Venceram os parlamentaristas.
Nesta guerra, destacou-se Oliver Cromwell, que instituiu uma república (1648-1658). Todavia, na prática, funcionou como uma ditadura, dado que Cromwell dissolveu o Parlamento.
O Parlamento só voltou a recuperar os seus plenos poderes em 1689, com a Gloriosa Revolução, quando Guilherme III, assinou a Declaração dos Direitos, comprometendo-se a respeitar os direitos individuais dos súbitos e as decisões do Parlamento.
- República: forma de governo na qual o chefe do Estado é eleito pelo povo ou seus representantes, tendo o seu mandato uma duração limitada.
- Parlamentarismo: Regime político em que o Parlamento é um dos órgãos de soberania (de poder). Este Parlamento é composto por representantes da nação, escolhidos pela população. Na Grã-Bretanha, o Parlamento era constituído pela Câmara dos Lordes e pela Câmara dos Comuns.
O Império Holandês (Página 101)
À semelhança dos Estados ibéricos, a Holanda queria:
- Participar no comércio internacional.
- Construir um império ultramarino.
A defesa da liberdade estendeu-se também ao funcionamento da economia. Os holandeses propuseram a seguinte teoria que contrapunha a Teoria do Mare Clausum, em vigor desde o Tratado de Tordesilhas (1494):
“Mare Liberum” – Liberdade de navegação
Assim, com base nisto:
- Aproveitaram o envolvimento de Espanha e Portugal nas guerras europeias para conseguirem algumas colónias portuguesas.
- Aposta na construção naval, essencial para o serviço de transporte de produtos (fretes), da pesca e das manufaturas têxteis.
- Tiraram partido do dinamismo da burguesia, grupo social mais importante, com ambiente de liberdade e tolerância, que atraiu inúmeros homens de negócios, como muito judeus.
O Império Inglês
A sociedade inglesa também apresenta um forte espírito burguês. Ainda no século XVI, a rainha Isabel I apoiou os atos de pirataria contra navios ibéricos.
Em 1651, temos uma Lei promulgada por Cromwell:
Ato de Navegação
Produtos das colónias inglesas só podiam ser transportados por embarcações inglesas, enquanto que as embarcações estrangeiras só podiam levar para a Inglaterra produtos das suas próprias colónias.
Esta lei permitiu o desenvolvimento da Inglaterra como potência naval e colonial. Com uma poderosa frota marítima, os ingleses combateram a hegemonia holandesa.
Na segunda metade do século XVII, a Inglaterra era já a potência colonial mais poderosa da Europa.
Novos instrumentos comerciais e financeiros (Página 103)
Para a construção dos seus impérios e para o desenvolvimento do comércio ultramarino, Holandeses e Ingleses contaram com o dinamismo económico e a intervenção política das suas burguesias.
Estas burguesias fundaram companhias comerciais:
- Companhia das Índias Orientais:
- Rota do comércio com o Oriente, através da Rota do Cabo.
- Companhia das Índias Ocidentais:
- Comércio com a América e com a África Ocidental.
- Concorre com os portugueses no comércio de açúcar e no tráfico de escravos.
As companhias comerciais são:
- Grandes sociedades comerciais, geralmente com muitos sócios, sendo, cada um, detentor de uma parte do capital correspondente a um determinado valor de ações. Foram construídas nos séculos XVII e XVIII, para praticar o grande comércio ultramarino. Um dos sócios podia ser o Estado.
Temos também a criação de instrumentos financeiros inovadores e importantes para a ascenção económica da Holanda e da Inglaterra:
- Fundação de Bancos (Banco de Transferências de Amesterdão e Banco de Inglaterra).
- Bolsa de valores.
Temos, assim:
- Bancos: estabelecimento, de carácter financeiro, onde se realizam depósitos, câmbios, descontos e empréstimos, bem como, em alguns casos, emissão de moeda.
- Bolsa: Estabelecimento oficial onde se reúnem homens de negócio, ou os seus representantes, para comprar e vender títulos de crédito (Ações).
Na primeira metade do século XVII (1600-1650), Lisboa e Sevilha perderam o domínio do comércio internacional para Amesterdão.
Nos finais do século XVII e durante o século XVIII, foi Londres que conquistou a hegemonia comercial e financeira.
O capitalismo comercial
O tráfego comercial era intenso e proporcionou uma forte acumulação de capitais, que passaram a ser geridos pelas Companhias de Comércio, pelos Bancos e pela Bolsa.
O capital acumulado era, depois, investido em novos negócios, para aumentar a produção e os lucros. Isto designa-se por capitalismo comercial.
Assim, temos:
- Acumulação de capitais: Elemento motor do sistema capitalista, que consiste no aumento ininterrupto do capital das empresas, que deve ser reinvestido para gerar aumento de produção, e assim sucessivamente.
- Capitalismo comercial: Sistema económico, em que os lucros obtidos através do comércio são reinvestidos, proporcionando novos lucros (as mais-valias).
O absolutismo em Portugal (página 105)
No absolutismo:
- Poder do rei era considerado de origem divina. Apenas limitado pelos costumes e pelas leis fundamentais do reino.
- A nobreza perdeu lugares na governação.
- Cortes reuniram-se cada vez menos, sendo a última em 1698.
- João V (Magnificência da Corte e culto da figura do rei)
- Reforma da organização do Estado, que permite controlar os súbditos e submete-los à sua autoridade.
- Corte e cerimónias públicos foram usados como instrumentos de poder.
- Beneficiou das remessas de ouro e diamantes do Brasil.
- Enviou grandiosas delegações às cortes estrangeiras.
- Patrocinou grandes construções arquitetónicas e outras obras da arte barroca.
A sociedade de ordens em Portugal
A sociedade portuguesa mantinha a hierarquia tradicional das três ordens sociais: clero, nobreza e Terceiro Estado.
- A burguesia portuguesa é pouco dinâmica e empreendedora. Investia os lucros do comércio em terras e bens de luxo, querendo imitar o modo de vida dos nobres.
- A Coroa e a nobreza concorriam com os burgueses nos negócios ultramarinos.
Esta mentalidade conservadora e a difícil afirmação da burguesia contribuíram para o atraso económico de Portugal.
Da prosperidade do comércio atlântico à crise económica (Página 107)
A agricultura era a principal atividade económica de Portugal no século XVII.
Mas os níveis de produtividade eram baixos:
- Técnicas e instrumentos agrícolas eram arcaicos.
- A maior parte das terras pertencia ao rei, ao clero e à nobreza. Além disto, não era convenientemente explorada.
A crise do comércio português com o Oriente, nos finais do século XVI, levara os portugueses a intensificarem a exploração dos territórios atlânticos. O tráfico de escravos e a produção açucareira fizeram crescer o comércio triangular português.
Na segunda metade do século XVII (1650-1700), a economia portuguesa entrou num período de crise comercial:
- As Guerras da Restauração com Espanha (1640-1668) implicaram o aumento dos impostos e o recurso a empréstimos.
- A concorrência dos ingleses, franceses e holandeses provocou uma quebra no comércio do açúcar e do tabaco do Brasil.
- As exportações de vinho e sal produzidos em Portugal diminuíram muito.
O mercantilismo em Portugal
A situação de crise económica levou à aplicação de medidas mercantilistas.
O Conde da Ericeira, ministro da Fazenda do rei D. Pedro II, ordenou:
- Criação de novas manufaturas, sobretudo no setor têxtil, e reforçou o apoio às que já existiam.
- Publicação das leis Pragmáticas:
- Lei (Protecionista) que regulava a importação de determinados produtos ou matérias-primas)
- Atribuição de empréstimos e privilégios a investidores estrangeiros que instalassem as suas fábricas em Portugal.
Contudo, esta política não deu os resultados esperados:
- Fraca qualidade dos produtos manufaturados.
- Leis Pragmática nem sempre se cumpriram.
- Balança comercial continuou negativa.
- Aumento das remessas de ouro do Brasil faz com que não se investa tanto em Portugal.
- Celebração do Tratado de Methuen com Inglaterra.
Da revolução científica aos ideais iluministas (Página 117)
Nos séculos XVII e XVIII ocorreu, na Europa, uma revolução científica, que acabou por dar origem a um movimento de renovação intelectual – o iluminismo.
O Iluminismo tinha por objetivo:
- Contribuir para o bem da Humanidade, libertando-a da ignorância e da superstição através do Saber e da Razão.
Neste contexto, o iluminismo baseava-se no racionalismo, segundo o qual o Homem alcança a felicidade e a verdade quando é iluminado pela razão e esclarecido pelo saber e instrução.
As ideias de alguns iluministas contribuíram para as grandes mudanças sociais e políticas, com base no liberalismo:
- Voltaire:
- Defendeu a liberdade e a justiça social.
- Criticou a intolerância do clero, acusando-o de ser responsável pela ignorância das populações.
- Rousseau:
- Igualdade de todos perante a lei e a soberania do povo que, por voto, deveria escolher os seus governantes.
- Montesquieu:
- Defendeu a separação de poderes políticos (legislativo, executivo e judicial) por diferentes órgãos de poder.
A difusão das ideias iluministas
As obras dos autores e as ideias iluministas eram divulgadas:
- Reuniões secretas da maçonaria.
- Salões.
- Cafés.
- Enciclopédia: Diderot e D´Alembert.
O despotismo esclarecido (Página 119)
Na segunda metade do século XVIII, alguns reis mostraram abertura e interesse pelas novas ideais dos pensadores iluministas e acabaram por levar a cabo reformas que visavam melhorar as condições de vida dos seus súbditos. A isto chamamos de despotismo esclarecido, pois apesar de terem um poder absoluto, são orientados pela Razão e pelos novos princípios:
- Despotismo esclarecido: Regime político em que o rei é senhor absoluto e o seu poder não tem quaisquer limites, sendo guiado pelos princípios da Razão. O Rei, esclarecido ou “iluminado” pela Razão, conduz o reino e os seus súbditos.
Exemplos deste despotismo esclarecido:
- Maria Teresa, Rainha da Áustria.
- Frederico II, rei da Prússia.
- Catarina, Imperatriz da Rússia.
- José I, rei de Portugal.
A herança do Iluminismo
O movimento iluminista defendia, contudo, ideais opostos à existência de um monarca absoluto, com poder de origem divina, propondo a soberania popular e a separação dos poderes políticos. A nação devia ser chamada a expressar livremente a sua vontade política através de eleições livres.
O Iluminismo propunha também uma nova sociedade, baseada em princípios como a igualdade, a liberdade e a tolerância.
Políticas de fomento comercial (Página 121)
Após a morte de D. João V, sucedeu-lhe seu filho, D. José, que nomeou, para seu ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal:
A sua governação seguiu as linhas do despotismo esclarecido ou iluminado, o qual associava o poder absoluto ás ideias de progresso e modernização
Nos finais do reinado de D. João V:
- Economia portuguesa mostra sinais de crise:
- Remessas de ouro do Brasil não chegam para pagar importações.
- Receitas do comércio de açúcar e tabaco tinham diminuído.
Marquês de Pombal desenvolveu uma política económica de regresso às ideias mercantilistas:
- Controlar o comércio metropolitano e comercial.
- Criação de companhias comerciais monopolistas.
Políticas de fomento industrial
Como o comércio colonial não dava os lucros desejados, o Marquês empreendeu, sobretudo a partir de 1770, uma política de desenvolvimento da indústria:
- Reorganizou as fábricas reais de lanifícios e outras já existentes.
- Fundou e renovou fábricas de vidros, louças, cutelarias e de fundição, entre outras.
- Fundou a primeira fábrica de refinação de açúcar.
- Reorganizou a Real Fábrica das Sedas.
- Contratou técnicos estrangeiros para melhorarem a produção.
Isto teve como resultado:
- Centenas de fábricas passaram a satisfazer as necessidades nacionais, restringindo-se as importações e aplicando-se medidas protecionistas para os produtos nacionais.
- Burguesia mais ativa e com maior projeção social e política.
Reforço do poder do Estado (Página 123)
Seguindo a tendência de outros países da Europa, o Marquês de Pombal empreendeu uma série de reformas com o objetivo de reforçar o poder do rei. Destas destacam-se:
- Criação do Erário Régio: reorganização da administração central. Passa a controlar as finanças públicas.
- Criação da Intendência-Geral da Polícia de Lisboa: separou as funções judiciais (dos tribunais) das da polícia.
- Criação da Real Mesa Censória: para censurar livros e publicações contra o regime, limitando os poderes da Inquisição.
Submissão das ordens privilegiadas
O plano de reforço do poder do Estado passou também por retirar poder aos grupos sociais privilegiados: Clero e nobreza.
Em 1758, o rei D. José I sofreu um atentado. Este acontecimento foi aproveitado para implicar poderosas famílias nobres, entre os quais os Távoras. Foram julgados, condenados à morte e os seus bens confiscados. Os membros do clero, nomeadamente os Jesuítas, foram perseguidos também. Como tal, foram expulsos de Portugal em 1759, e os seus bens foram também confiscados pela Coroa.
Reformas no ensino
Em meados do século XVIII, muitos “estrangeirados” criticavam o atraso cultural e científico de Portugal. Por isso, propuseram a modernização e laicização do ensino.
No setor do ensino, destacam-se as seguintes medidas:
- Fundação do Colégio dos Nobres e da Aula do Comércio para formar os jovens da nobreza e da burguesia para os cargos do Estado.
- A reforma da Universidade de Coimbra, que foi dotada de um ensino mais prático e experimental.
Assim, temos:
- Estrangeirados: Nome dado aos intelectuais portugueses que, tendo vivido no estrangeiro e aí contactado com ideias iluministas, trouxeram para Portugal as novas correntes da cultura europeia.
- Laicização do ensino: Medidas tomadas para separar o ensino da religião, com o objetivo de tornar o ensino laico, ou seja, não religioso.
A cidade como imagem do poder: o urbanismo pombalino (Página 125)
No dia 1 de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos, um forte terramoto, seguido de um maremoto e vários incêndios, destruíram uma grande pare da cidade de Lisboa.
Após a catástrofe, o Marquês tomou medidas rápidas para recuperar a cidade:
- Mandou enterrar os mortos e socorrer os feridos.
- Ordenou que todos os palácios e igrejas fossem vigiadas, para evitar que as suas riquezas fossem roubadas.
- Planificou cuidadosamente a reconstrução da cidade, proibindo as pessoas de reconstruírem as suas casas sem respeitar esse plano.
A reconstrução da cidade foi entregue ao engenheiro Manuel da Maia e aos arquitetos Carlos Mardel e Eugénio dos Santos, os quais, orientados pelo Marquês, conceberam um plano revolucionário para a época:
- Avenidas largas para facilitar a circulação de carros de cavalos, alternando com ruas mais estreitas.
- Construção de passeios para peões.
- Distribuição dos ofícios por ruas para facilitar o comércio.
- Instalação de uma rede de esgotos.
- Construção de casas com a mesma altura e com fachadas iguais.
- Utilização de formas de construção mais resistentes aos sismos.
- Construção de uma grande praça central (a atual Praça do Comércio).
O principal espaço da cidade passou a designar-se Praça do Comércio em homenagem aos comerciantes. No centro da praça, a estátua de D. José exibia a grandeza do poder do monarca.